Obrigado por estar aqui , você faz parte deste número

domingo, 9 de outubro de 2011

Hepatite C: Silêncio e perigo

Saúde
 

Isaac Ribeiro - Repórter
Existem muitas campanhas preventivas contra o HIV, vírus causador da Aids, grande temor dos tempos atuais. Porém, há uma doença cujo número de infectados no mundo é seis vezes maior, e poucos sabem como se prevenir, tratar-se ou sequer seus sintomas e situações de riscos. A hepatite C é um mal silencioso que atinge cerca de 170 milhões de pessoas no planeta, segundo dados da Organização Mundial de saúde (OMS). No Brasil, seria algo em torno de 1,5 milhão de contaminados. E o pior é que a grande maioria desconhece ser portadora do mal.
Geralmente, os casos crônicos não apresentam sintomas durante vinte ou trinta anos, diferente dos tipos A e B, que têm sinais definidos:  olhos amarelados, urina escura, fezes esbranquiçadas, falta de apetite, dores pelo corpo.Pode-se contaminar com o vírus HCV (o da hepatite C) quem entrar em contato direto com o sangue infectado no uso de agulhas e seringas não descartáveis, algo praticado até final dos anos 1980, início dos 90.  É alto o risco de infecção em pessoas que, nessa época, fez transfusão de sangue, tatuagem, piercing, uso de drogas endovenosas (injetáveis), fez uso de instrumentos de manicure e pedicure também não descartáveis ou sem a devida assepsia.
Outro grupo considerado de risco pelos especialistas são ex-atletas, principalmente jogadores veteranos de futebol, por receberem remédios, vitaminas e infiltrações sem os cuidados de hoje.
Estima-se que 80% dos contaminados pelo HCV só descobrirão ter a doença em exames motivados por outros objetivos, como doação de sangue ou hemodiálise, por exemplo. Os sintomas mais frequentes, manifestados geralmente na faixa dos 60 anos de idade, são a cirrose hepática e o câncer de fígado.

Mas apesar de o diagnóstico ser difícil, existe tratamento e cura para a hepatite C, como afirma o infectologista Antônio Araújo, que trata vários pacientes infectados.
Segundo ele, ao iniciar o tratamento, os doentes sofrem mais com os efeitos colaterais das drogas usadas na busca da cura do que com os próprios sintomas da doença. Atualmente, são usadas interferon e rivabalina, com uma resposta terapêutica em torno de 50% a 55%.

"Essas drogas causam desde uma febre, dor no corpo - o que é quase comum a todos - até distúrbios de comportamento, de tireóide, distúrbios psicóticos. O paciente emagrece, tem anemia, isso durante um período de um ano ou de seis meses, dependendo do tipo de hepatite C que ele pegou. Os tipos melhores de tratar é o dois e o três. E os mais difíceis de tratar e de ter uma resposta são o um e o quatro. Nos outros é mais fácil ter uma resposta terapêutica sustentada", explica Antônio Araújo.

Novas drogas serão lançadas próximo ano
Duas drogas novas serão lançadas no primeiro semestre do próximo ano e prometem otimizar o tratamento contra a hepatite C. O boceprevir e o telaprevir serão usados em combinação com os dois medicamentos usados atualmente, o interferon e a ribavarina, e devem melhorar a resposta terapêutica em 80%. Hoje, esse índice fica em torno dos 55%.
"Aquelas pessoas que não negativaram  a hepatite, poderemos incluí-las no tratamento com essas drogas novas", comenta o infectologista Antônio Araújo.
Hoje não existe uma vacina para a prevenção ao vírus HCV. A melhor prevenção é evitar situações de risco: nunca abrir mão de seringas e agulhas descartáveis em procedimentos médicos - transfusões e doação de sangue, principalmente - ou na hora de fazer tatuagens ou colocar piercings. As mulheres devem ficar atentas na hora em que forem à manicure. É aconselhável que cada cliente leve os próprios instrumentos, como alicate e tesouras. As profissionais do salão devem usar luvas ao atender suas clientes.
Embora pouco frequente, o vírus da hepatite C também pode ser transmitido através das relações sexuais sem proteção. Portanto, o uso da camisinha é absolutamente imprescindível. Sempre.
Outras recomendações: ficar longe de bebidas alcoólicas, principalmente se for ou tiver sido portador do vírus, não utilizar drogas injetáveis, fazer o teste de hepatite C se estiver pensando em engravidar - a transmissão de mãe para filho representa 5% dos casos -, tomar vacinas contra hepatites A e B, vacina contra gripe todos os anos e contra pneumonia, se for portador do vírus HCV.
A hepatite C gera um prejuízo econômico grande para o País. As drogas são caras e, segundo Antônio Araújo, as novas que estão por vir são ainda mais caras. "Cada doente desse gasta muito. Uma ampola do medicamento fica em torno dos 400 reais; e é uma por semana. Só de injeção, são  1.600 reais por mês. E tem outra coisa: se não tratar agora, aí vai para o transplante, que é mais caro ainda", comenta o médico.
Quando não há outras doenças associadas, como a cirrose, por exemplo, a probabilidade de cura varia de 30% a 70%, dependendo do tipo de vírus.
Mesmo quando considera-se eliminado o vírus do organismo, o paciente deve ser acompanhado por até sete anos, de acordo com Antônio Araújo. "Ontem mesmo recebi no consultório um paciente que já fazia sete anos que tinha se tratado. E está negativo. Então, eu acho que ele está curado da hepatite C dele. Ele não vai começar a beber, porque se fizer isso, vai lesar o fígado e a doença pode voltar novamente."
Ele comenta que o pior no tratamento são os efeitos colaterais das drogas. São raras as pessoas que não apresentam reações adversas: anemia, indisposição, falta de apetite, perda de peso, depressão, ansiedade, insônia, febre, calafrios, dores pelo corpo e de cabeça. Tudo isso acaba afastando paciente de suas atividades diárias.
Ex-jogadores de futebol estão entre os mais contaminados
Pode parecer inusitado, mas ex-jogadores de futebol estão entre os principais suspeitos de infecção pelo vírus da hepatite C; principalmente os atuantes nas décadas de 1980 e 90. De acordo com o infectologista Antônio Araújo, é bastante alta a incidência do HCV nesses ex-atletas.
O motivo é que naquela época os jogadores eram medicados sem os devidos cuidados de assepsia, como o uso de material descartável.
"Havia muita infiltração, os jogadores tomavam vitaminas para jogar, alguns tomavam certas injeções, alguns estimulantes, pois na época não tinha anti-doping; existiam as medicações para contraturas musculares, as distensões, os traumatismos. Então, esses jogadores da época, a maioria deles, têm hepatite C", explica Antônio Araújo.
O problema é que esses ex-jogadores têm medo de aparecer, o que representa um sério problema com relação ao diagnóstico e tratamento.
Para reverter essa situação, é preciso ir de encontro dessas pessoas enquadradas nesse grupo epidemiológico. O infectologista conta ter feito uma reunião, este ano, com vinte ex-atletas. Ele fez o teste rápido neles e dez apresentaram resultado positivo para HCV. Dos dez, apenas três apareceram para fazer o tratamento. "Esses que não foram estão esperando o quê? Ter cirrose, câncer de fígado?"
Fonte: Tribuna do Norte

Nenhum comentário: