Durban - Uma aliança até então sem igual em conferências sobre o clima foi formada este ano em Durban. A União Europeia (UE) uniu forças com os países menos desenvolvidos, os chamados Least Developed Countries (LDC) e com a Aliança de Pequenos Estados Insulares (Aosis, na sigla em inglês). Juntos, os cerca de 120 países são a esmagadora maioria da conferência. Eles pleiteiam um segundo período de vigência do Protocolo de Kyoto e a criação de um acordo climático abrangente que estipule metas de reduções de emissões para os países industrializados e emergentes.
Para o ambientalista Martin Kaiser, diretor de política climática do Greenpeace, esse é um sinal positivo. "A União Europeia se colocou do lado daqueles que veem a mudança climática como uma questão de sobrevivência e que, baseados na urgência científica, querem criar fatos novos no âmbito político."
Do outro lado estão os grandes emissores de gases do efeito estufa, entre eles os EUA, que não devem abandonar em Durban sua posição de bloqueador de um acordo, mas também o grupo de países do chamado bloco Basic, ou seja, Brasil, África do Sul, Índia e China.
Dois integrantes desse quarteto, a anfitriã África do Sul e o Brasil, são vistos como dispostos a ceder. Eles sinalizaram que estão prontos para tentar reduzir suas emissões de gases do efeito estufa. Incerta permanece a posição da China, que é, em termos absolutos, o maior emissor de gases do efeito estufa do mundo e, portanto, essencial para uma proteção climática eficaz. Por um lado, os chineses declararam que não querem bloquear um acordo juridicamente vinculativo. Por outro, ainda não deixaram claro se estão dispostos a limitar suas próprias emissões.
Do grupo Basic, a Índia mostra ser o maior empecilho, não querendo limitar suas emissões. A ministra indiana do Meio Ambiente e da Floresta, Jayanthi Natarajan, aponta para o elevado número de pessoas pobres em seu país. "Eles estão lutando pela sobrevivência diária e pelas necessidades básicas. Deles não se pode esperar que sejam obrigados a reduzir suas emissões se nem mesmo produzem emissões." O desenvolvimento econômico e a luta contra a pobreza são atualmente as prioridades para os pobres na Índia.
Os indianos, portanto, não esperam que haja um novo acordo climático antes de 2020. Mas a UE não quer esperar tanto. A negociadora-chefe europeia, Connie Hedegaard, insiste em 2015. "Este não é um prazo injusto. Ainda restariam quatro anos para se fazer [as adaptações] necessárias!"
"Não podemos aceitar que uma fase de negociação de anos seja usada para se fazer uma pausa nas nossas atividades", concorda o ministro alemão do Meio Ambiente, Norbert Röttgen. "Ação e negociação devem ocorrer paralelamente." Se os países participantes da conferência não entrarem num acordo, o processo de negociação do clima no âmbito das Nações Unidas pode entrar em colapso. "Um fracasso em Durban é uma opção e seria melhor do que fechar um acordo de araque", opina Kaiser. Ambientalistas fizeram protesto no local da conferência.
Brasil cai em ranking mundial do clima
Durban - A cada ano, através do Índice de Proteção do Clima, a ONG alemã Germanwatch examina atentamente as políticas climáticas nacionais. Os números atuais foram divulgados na terça-feira passada em Durban, durante a Cúpula do Clima da ONU. O balanço do Índice de Proteção Climática 2012 é decepcionante: nenhuma nação do mundo fez o suficiente para restringir o aquecimento global a 2ºC. Assim, as organizações ambientais Germanwatch e Climate Action Network Europe (CAN) deixaram em branco este ano os três primeiros lugares do ranking.
A quarta e, portanto, melhor colocação coube à Suécia. Segundo Wendel Trio, diretor da CAN Europe, o país "se sai relativamente bem, pois apresenta emissões baixas [de CO2 e outros gases-estufa] e uma tendência decrescente". Em quarto e quinto lugar, encontram-se o Reino Unido e a Alemanha, respectivamente.
Christoph Bals, da Germanwatch, diz que a Alemanha melhorou ligeiramente. Isso se deve às novas diretrizes no setor de energia e à presença "de uma dinâmica bem maior no campo das energias renováveis", afirma. "Por outro lado, a Alemanha não está no caminho de uma meta de redução que mantenha o marco dos 2ºC", ressalva. Para que essa situação mude, os ambientalistas vêm instando os Estados da União Europeia a elevar suas metas de redução para os próximos anos de 20% para 30%.
Em contrapartida, o novo país-problema da política climática europeia é a Holanda, que, devido à elevação de suas emissões de CO2, foi rebaixada em 12 colocações no índice. Este considera tanto o volume e a tendência das emissões quanto uma avaliação da política climática nacional.
O Brasil, por sua vez, caiu do quarto e melhor lugar no ranking anterior para o sétimo. Isso se deve ao acréscimo das emissões na produção de energia. A partir do próximo ano, a Germanwatch pretende incluir no índice também as emissões decorrentes do deflorestamento. Até o momento isso não ocorrera por falta de dados. "Se isso acontecer, então o Brasil vai se sair bem pior. Sobretudo devido às atuais dicussões sobre o novo Código Florestal, que teriam consequências negativas sobre as emissões brasileiras", esclarece Trio.
Fonte: Tribuna do Norte
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