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segunda-feira, 25 de junho de 2012

Jejum ajuda o organismo a combater efeitos nocivos de alimentos pouco saudáveis

 Saúde
Qual seria o resultado de seguir, durante 100 dias, uma dieta à base de muita batata frita e muito sorvete? A resposta parece simples. A consequência, muito provavelmente, seria o aumento de problemas cardíacos, do risco de diabetes e de doenças hepáticas, sem mencionar o perverso sobrepeso. No entanto, pesquisadores do Instituto Salk para Estudos Biológicos da Califórnia, nos Estados Unidos, acrescentaram um novo fator a essa equação que pode tornar a resposta mais complexa. A depender do intervalo entre as refeições, o resultado da comilança poderia ser diferente.
Pelo menos é o que sugere um estudo feito com ratos na instituição de pesquisa. Em um experimento com cobaias, os cientistas chegaram a um resultado surpreendente: o jejum prolongado anulou os efeitos prejudiciais de uma dieta rica em gordura e altamente calórica. Antes que alguém ache que a ingestão de qualquer tipo de comida está liberada desde que seja seguida de um bom período de jejum, o principal autor do estudo, Satchidananda Panda, adverte que seu experimento não permite essa conclusão. Segundo ele, a pesquisa indica que, com um jejum diário, o corpo pode lutar contra alimentos não saudáveis em um grau significativo, mas com efeitos limitados. Segundo ele, a obesidade pode ser prevenida preservando os ritmos naturais de alimentação e jejuando apenas durante a noite, sem alterar o consumo alimentar durante o dia. Na investigação, a equipe de pesquisadores alimentou dois grupos de cobaias com os mesmos genes com uma dieta na qual 60% das calorias eram provenientes de gorduras. A diferença era que uma parte dos animais podia se alimentar em qualquer momento, enquanto o segundo, somente num intervalo de oito horas, permanecendo o resto do dia sem comer. O consumo de calorias diárias era o mesmo para todos os ratos. Para ter um parâmetro de comparação, outros dois grupos de controle foram formados. Neles, os animais se alimentavam de uma ração padrão, com apenas 13% de gordura, e também foram divididos em uma parte com o tempo de alimentação restrito e outra livre. Como esperado, os ratos que consumiram a dieta mais gordurosa sem restrição de horário ganharam peso e desenvolveram elevados níveis de colesterol e glicose sanguínea, além de sofrerem danos no fígado e diminuição do controle motor. Porém, os que consumiram a mesma quantidade de ração gordurosa, mas durante um período limitado do dia, apresentaram no fim do experimento um peso 28% menor que o outro grupo e não tiveram qualquer efeito adverso na saúde. Já nas cobaias de controle, ratos que seguiram a dieta padrão por tempo restrito também tiveram um desempenho melhor do que os ratos que comeram livremente – e só apresentaram resultados um pouco melhores do que aqueles que receberam a dieta gordurosa aliada a grandes intervalos entre as refeições. “O jejum é natural. Nós, seres humanos, evoluímos durante milhões de anos sem comer durante a noite. Só depois da invenção das lâmpadas, nos últimos 100 anos, que estamos comendo até tarde da noite”, argumenta Satchidananda Panda. Segundo ele, milhares de genes responsáveis por muitos efeitos benéficos à saúde são ativados após cinco ou seis horas sem se alimentar. De acordo com a pesquisa, enquanto comemos, o corpo continua a produzir e armazenar gordura. Sob tais condições, o fígado também mantém a fabricação de glicose, o que aumenta os níveis de açúcar no sangue, um fator de risco para o diabetes. O tempo de restrição alimentar, por outro lado, reduz a produção de gordura, de glicose e de colesterol, permitindo uma melhor utilização dessas substâncias. O ciclo diário de alimentação-jejum ativa as enzimas do fígado que quebram o colesterol em ácidos biliares, estimulando o metabolismo de um tipo de “gordura boa” no corpo que converte as calorias extras em calor. Assim, o corpo queima gordura durante o jejum. O fígado também desliga a produção de glicose por várias horas, o que ajuda a diminuir o açúcar no sangue. A glicose extra que teria chegado ao sangue é, então, usada para construir moléculas que reparam células danificadas e fazem um novo DNA. Cuidados O mestre em nutrição humana pela Universidade de Brasília (UnB) Aldemir Mangabeira e a mestre em saúde pública pela Universidade do Texas em El Paso (UTEP) Estelle Prado reforçam os cuidados que devem ser tomados ao analisar as conclusões do estudo. Eles argumentam que existem diversos outros nutrientes e elementos químicos que são fundamentais para a saúde e que não foram considerados na pesquisa. “Outra ponderação é que o experimento foi conduzido com grupos submetidos a um consumo excessivo de gordura (60%), não usual para humanos. Uma dieta equilibrada, por exemplo, terá, em média, 30% de gordura”, afirma Mangabeira. Estelle Prado ressalta que longas pausas sem se alimentar podem trazer efeitos negativos ao organismo. “No período de jejum prolongado, ocorre o estímulo de hormônios catabólicos, como o cortisol, que têm efeito inflamatório, além de outros efeitos indiretos, como constipação intestinal, gastrites e úlceras”, diz. Por outro lado, os dois nutricionistas reforçam que o momento em que as refeições são feitas tem sim grande importância na saúde e no controle do peso. Eles lembram, por exemplo, que o consumo excessivo de carboidratos simples e alimentos gordurosos à noite promove acúmulo de gordura. A endocrinologista Hermelinda Pe-drosa, da Sociedade Brasileira de Diabetes, afirma que alimentar-se com pequenas quantidades em intervalos de tempos não muito longos – uma recomendação muito dada por médicos e nutricionistas – visa à ativação do metabolismo de modo mais regular, evitando o armazenamento que ocorre quando alguém passa muito tempo sem comer. “O organismo interpretaria (o jejum) como uma necessidade de estocar, e esse efeito é primariamente conduzido pela insulina. A obesidade é associada há muito tempo com o excesso alimentar e a diminuição de atividade física. O homem não procura mais a comida como ocorria com os nossos ancestrais. O que concorreu, inclusive, para mudanças genéticas em várias populações, especialmente aquelas que não dispunham de abundância. Isso pode ser observado nos países emergentes da América Latina, incluindo o Brasil, com o incremento da obesidade”, analisa.

 Estado de Minas

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