Nos últimos
meses, o paranaense Wendell Coltro, de 34 anos, professor de química da
Universidade Federal de Goiás (UFG), vem dividindo seu tempo entre o
laboratório e reuniões com empresários. Duas grandes companhias
brasileiras da área de saúde negociam o licenciamento de um novo método
de análises clínicas desenvolvido por Coltro e sua equipe para medir
níveis de diabetes, triglicérides, colesterol, entre outros, a partir de
uma amostra de sangue ou urina. A principal diferença é o custo:
enquanto pacientes chegam a pagar até 80 reais para fazer esses exames
na rede particular, Coltro promete resultados confiáveis a um custo de
apenas 15 centavos.
O professor de
química iniciou o projeto em 2010, quando o Brasil enfrentava uma das
maiores epidemias de dengue da história. Coltro começou a pensar em uma
forma de usar os conhecimentos do doutorado em química analítica,
concluído na Universidade de São Paulo (USP), para criar um novo método
de baixo custo para fazer exames de análises clínicas. “O atendimento à
saúde é precário no Brasil e as pessoas morrem sem ter um diagnóstico.
Com criatividade, criamos um método barato que pode ser usado para
servir melhor a população”, diz Coltro, em entrevista ao site de VEJA.
O pesquisador
decidiu usar uma impressora a laser para imprimir em uma transparência
um desenho que coloca em contato uma amostra de sangue com substâncias
que identificam se a dengue está presente no organismo. “Quando o sangue
coletado é colocado na superfície, há uma variação na cor se for
identificada a presença de anticorpos daquela doença”, explica. O método
foi testado em hospitais de Goiás e conseguiu apontar, com eficácia, se
um paciente estava ou não infectado.
Com o domínio
da técnica, Coltro pesquisou como como usar um método semelhante em
outros exames de análises clínicas que não dependesse das
transparências, que estavam em falta nas lojas. A solução foi substituir
o material por um papel com microfuros, semelhante a um filtro de papel
para café. Ele é mergulhado em parafina líquida, que forma uma fina
camada em segundos. Duas folhas são sobrepostas e, com um carimbo
aquecido, ele conseguiu transferir a parafina para a segunda folha. A
imagem formada possui um círculo central, onde a amostra de sangue ou
urina é depositada. A amostra passa por “trilhas” até chegar aos
repositórios nas extremidades. “São apenas dois segundos para fabricar
cada dispositivo”, diz Coltro.
A técnica
permite fazer até oito exames de análises clínicas ao mesmo tempo, entre
eles colesterol, triglicérides, ácido úrico e glicose. Depois de
depositar uma gota de sangue ou urina no centro do desenho “impresso” em
parafina, o resultado fica pronto em cerca de 15 minutos. Para fazer
uma análise mais aprofundada, é possível fotografar os resultados com o
smartphone e compará-lo com uma escala de cores. No caso do exame de
glicose, um resultado amarelo ou incolor indica hipoglicemia. Se a cor
se aproximar do marrom, é diagnosticado que o paciente tem diabetes.
A simplicidade e
o custo dos exames tornam o projeto promissor, principalmente para
atender regiões afastadas, onde não há postos de saúde e hospitais.
Segundo Coltro, o método torna os exames mais confiáveis – uma vez que
as amostras de sangue não precisam ser transportadas por longas
distâncias – e ficam prontos mais rápido. “O próprio paciente poderia
receber os dispositivos, pingar uma gota do sangue ou urina e enviar uma
foto do resultado para o laboratório pelo celular”, diz Coltro. Além
disso, apenas uma gota de sangue ou urina é necessária. “O método é
menos invasivo e, quando chegar ao mercado, pode permitir o
monitoramento diário da saúde do paciente, ajudando na prevenção de
doenças."
O próximo
desafio de Coltro é levar a ideia da universidade para o mercado.
“Romper a barreira entre a universidade e as empresas ainda é muito
difícil”, diz o professor. Se ele chegar a um acordo com as empresas com
as quais negocia, o exame de sangue de 15 centavos deve estar, em
breve, disponível em boa parte do país. No meio acadêmico, por outro
lado, o projeto já rendeu ótimos resultados. Desde 2010, Coltro
conseguiu 20 estudantes – entre graduação, mestrado e doutorado – para
aperfeiçoar a ideia e muitos deles já ganharam bolsas para continuar a
pesquisa no exterior.
(Veja)
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