Economia
Rodrigo SenaÍndice de devedores que sairão do cadastro será menor este ano
Por Andrielle Mendes - Repórter/ Renata Noura - Editora
A queda nas taxas de juros nos bancos e no mercado deu ânimo extra aos consumidores para comprar, mas não tem sido sinônimo de grande estímulo para quem comprou e ficou devendo, pelo menos no comércio. Um levantamento revelado à TRIBUNA DO NORTE pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) no Rio Grande do Norte ajuda a medir o movimento: de acordo com os dados, entre 1% e 2% dos consumidores que estão com o nome sujo no estado deverão regularizar a situação entre outubro e dezembro deste ano. No último trimestre de 2011, 2% conseguiram fazer o mesmo.
Com
a economia crescendo menos, alguns setores contrataram menos
trabalhadores, e outros até demitiram mais. Parte da população também
exagerou nos gastos e ficou com o orçamento apertado. A combinação
desses fatores ampliou a lista de devedores e atrapalhou o ritmo de
pagamentos. Alguns consumidores, como o empresário Henrique Nobre
Pereira de Souza, 24, entraram na estatística por acaso. "Emprestei meu
cartão e acabei herdando uma dívida de R$ 3 mil. Agora, o jeito é
negociar com a empresa", disse ele, um dos "devedores" que foram ao SPC
na semana passada. Em apenas cinco minutos, outros 14 procuraram o
balcão do órgão para checar a situação de dívidas que contraíram. A
doméstica Raquel Trajano Galdino, 26, de Pedro Velho, interior do Rio
Grande do Norte, foi uma delas. Ela descobriu esta semana que haviam
passado quatro cheques em seu nome e que estava no SPC.
O
movimento intenso na sede do órgão mascara a queda na proporção de
devedores que tem conseguido sair do cadastro e retomar, sem barreiras, o
poder de compra. No último trimestre de 2010, o percentual de
potiguares que conseguiram limpar o nome foi quatro vezes maior que o
registrado no mesmo período do ano passado. A retração não é
preocupante, diz o diretor do SPC/Serasa e vice-presidente da Câmara de
Dirigentes Lojistas de Natal (CDL Natal), Augusto Vaz. "O número está
dentro da média", tranquiliza.
Taxas para negociar estão menores
Em
bancos como a Caixa Econômica Federal, a procura por renegociação está
bem maior. "Entre agosto e setembro de 2011 - antes da redução das taxas
de juros - recuperamos R$ 11,48 milhões, considerando o crédito
comercial e habitacional. Entre agosto e setembro deste ano,
recuperamos R$ 20,13 milhões - 75,3% a mais", compara Roberto Linhares,
superintendente da Caixa no RN.
Aldair Dantas
a
incidência dos juros eleva o valor devido às alturas e o devedor pode
ficar com o nome sujo, impedido de fazer novas compras no comércio
Na
Caixa, os juros para quem quer renegociar as dívidas caíram até 43%,
passando de 1,99% ao mês para 1,14% ao mês (a taxa mínima). O Banco do
Brasil registrou queda na mesma proporção. "Também alongamos o prazo de
84 para 96 meses", informou o banco, que não revelou em quanto o
movimento subiu após o corte das taxas.
De acordo com os bancos,
não há problemas com a renegociação ou portabilidade das dívidas. "Não
há relatos de dificuldades", defende César Pontes Silva Pessoa, gerente
de negócios da superintendência estadual do Banco do Nordeste (BNB),
banco que atua no desenvolvimento da região Nordeste e norte de Minas
Gerais e Espírito Santo, e oferece linhas de crédito para atividades
produtivas em praticamente todos os setores de atividade como indústria,
comércio, serviços, infraestrutura, pecuária, agricultura, agricultura
familiar, microcrédito urbano e rural, onde tem forte atuação. Roberto
Linhares, superintendente da Caixa no RN, também nega que haja
obstáculos. "Não há barreiras legais".
Depois completa: "há
casos em que os descontos para o cliente que deseja renegociar a dívida e
aceita pagar à vista reduzem em até 90% o débito (dívida atualizada,
juros, multa e correção monetária)". Segundo ele, vale a pena pegar
dinheiro no banco para saldar dívidas, "mas somente quando você troca
uma taxa de juros mais alta por uma mais baixa e adequa o prazo de
pagamento à sua real possibilidade financeira". Para renegociar nos três
bancos, basta procurar uma das agências.
Financeiras
As
financeiras não têm conseguido acompanhar o movimento dos bancos e
registram queda na procura por renegociação de dívidas no período. "Nós
não conseguimos competir de igual para igual", confessa a atendente de
uma financeira localizada no centro da cidade, que trabalha apenas com
empréstimos consignados - àqueles com desconto em folha e juros mais
baixos.
Devedor pode encontrar obstáculos
O
caminho para renegociar uma dívida não é, porém, tão fácil. Quem faz o
alerta é o economista e especialista em Finanças, Richard Rytenband, que
identificou uma série de obstáculos depois de se endividar 'de
propósito'. "Pensei: é muito fácil dar dicas de como renegociar uma
dívida. Quero ver se é fácil também colocá-las em prática".
Divulgação
Rytenband: incursão no mundo dos endividados para ver barreiras
Ao
se colocar no papel das pessoas que pagam para assistir suas palestras e
que leem seus artigos, o economista percebeu que trocar uma dívida mais
cara por uma mais barata pode ser mais difícil do que se imagina.
Na
incursão pelo mundo dos endividados, Richard descobriu alguns atalhos,
como a última instância de cobrança das empresas, por exemplo. "Passei
meses tentando resolver o problema com o gerente de minha agência e
nada. Procurei a última instância de cobrança e obtive uma solução.
Levei três meses para resolver algo que consegui solucionar em duas
horas". Esta não foi a única descoberta.
O especialista também
percebeu que muitas empresas melhoram as propostas quando os clientes
se mostram bem orientados. "Já chegue com uma contraproposta. Diga que
não aceitará nenhuma outra. E se insistirem, diga que vai procurar o
PROCON, um advogado, a Justiça. Noventa por cento deles vai aceitar sua
contraproposta. Eles não querem problemas".
O mapa de sua
incursão, incluindo os velhos caminhos e as novas rotas, será publicado
em forma de livro, o 'Quebrando os Códigos da Riqueza: como a sociedade
impede você de ser rico', que deve ser lançado em, no máximo, dois
meses. "Renegociar não é tão fácil. Se não bastasse toda a dificuldade,
algumas empresas e instituições ainda jogam com o emocional das
pessoas", diz ele.
Professor indica opções além dos bancos
Na
hora de renegociar, traçar a melhor estratégia para levantar recursos
acaba sendo um desafio. Uma certeza, porém, existe: há vida além do
crédito bancário, afirma o contabilista Daniel Trigueiros, professor do
curso de Gestão Financeira da Universidade Potiguar (UnP). De acordo com
o professor, o mais indicado é que o consumidor que está endividado não
utilize tantos recursos de terceiros - de bancos ou instituições
financeiras. "O consumidor deve utilizar o 13º salário, parte das
férias, aplicação financeira, para pagar as dívidas", afirma.
Trigueiro
recomenda ainda procurar as instituições financeiras (para obter mais
crédito) 'em último caso'. Isso porque "as taxas de juros ainda são
altas". Vender um bem material para 'pagar ou amortizar' parte da dívida
também é uma possibilidade, de acordo com o especialista em Finanças,
Richard Rytenband. Se não for possível fazer nada disso, "deve-se
procurar uma instituição financeira que ofereça uma melhor taxa de juros
e um melhor prazo de pagamento", finaliza Daniel Trigueiros.
"É preciso ser duro na negociação"
Divulgação
Ricardo
Pereira diz que pode não ser fácil argumentar, porque o credor vai
querer tirar vantagem para a empresa e, para isso, é preciso ser duro e
saber até onde se pode ir
Para o consultor financeiro do
programa Consumidor Consciente, da MasterCard, Ricardo Pereira, o
momento é favorável à negociação de dívidas, mas o consumidor deve
pesquisar as condições oferecidas. "É importante que ele aceite apenas
propostas que se encaixem no seu orçamento", orienta. Na entrevista a
seguir, à TRIBUNA DO NORTE, ele dá outras dicas.
O momento atual é favorável à renegociação de dívidas?
Sem
dúvida. As empresas costumam fazer promoções no fim do ano, o
consumidor recebe o 13º salário, os bancos reduziram as taxas de juros.
Dá para trocar uma dívida mais cara por uma mais barata sem muita dificuldade?
O
consumidor pode trocar dívidas mais caras por mais baratas, desde que
pesquise bem e tenha uma atitude ativa quanto a negociação.
Atitude ativa?
Sim.
Não é porque está devendo que o consumidor é obrigado a aceitar
qualquer negociação. É importante que aceite apenas propostas que se
encaixem no seu orçamento.
Poderia dar alguma dica para quem quer trocar uma dívida mais cara, em termos de juros, por uma mais barata?
Quem está devendo no crédito rotativo do cartão de crédito ou no cheque especial tem outras alternativas mais baratas.
Que alternativas seriam essas?
Existem
algumas linhas de crédito mais baratas, como o crédito pessoal e o
empréstimo consignado, descontado na folha de pagamento. Nestas linhas,
consegue-se encontrar juros em torno de 2% ou até um pouquinho menos. Se
conseguir trocar uma dívida que está perto de 10% por uma que está
perto de 2% vai estar fazendo um grande negócio. Outra coisa que vale a
pena lembrar é que no fim do ano o consumidor recebe o 13º salário. É
interessante usar este dinheiro para saldar as dívidas. Ele pode fazer o
pagamento e se livrar de uma vez por todas da dívida.
A primeira opção é sempre usar o dinheiro extra para tentar liquidar débitos?
Sem
dúvida, essa é a melhor alternativa. Às vezes, o consumidor recebe um
dinheiro extra, está com dívida, mas ao invés de quitá-la prefere
comprar algo que não precisa naquele momento, e vai empurrando a dívida
com a barriga. E aí quando precisa fazer um financiamento, não consegue.
E trocar de banco? É válido?
Claro.
É uma alternativa. Os bancos, principalmente os públicos, reduziram
bastante as taxas da linha de crédito. Mas alguns fatores precisam ser
pesados antes de se tomar esta decisão. É importante lembrar, antes de
tudo, que muitos dos problemas são ocasionados por que nós, clientes,
não levarmos a sério nosso relacionamento com o banco, não procurarmos
compreender como funcionam os produtos bancários e aceitarmos
passivamente coisas que nos são empurradas.
Quem procurar na hora de renegociar uma dívida?
O
consumidor deve elaborar uma proposta por escrito e procurar o credor.
Se a proposta não for aceita, pode procurar os órgãos de Defesa do
Consumidor.
Renegociar é tão fácil quanto parece ou há barreiras?
Pode
não ser tão fácil argumentar, porque o credor vai querer tirar vantagem
para a empresa. É preciso ser duro e saber bem até onde se pode ir.
O que o consumidor que quer saldar antigas dívidas deve fazer?
Se
organizar. Saber exatamente para quem deve e quanto deve. E a partir
daí tentar quitar as dívidas que têm os valores maiores e os juros
maiores.
As empresas geralmente aceitam as contrapropostas apresentadas pelos consumidores?
De uma maneira geral, sim. Claro, que não se vai fazer uma proposta absurda. Deve haver um bom senso.
Bom senso e sinceridade..
Isso.
É muito interessante esse momento que o Brasil está atravessando.
Estamos tendo de lidar com coisas que nossos pais não precisaram lidar.
Uma delas é o acesso ao crédito, que fez com que várias pessoas que não
souberam lidar com ele ficassem endividadas. Uma expressão que temos
escutado bastante é consumo consciente. O consumo consciente tem que
nortear todas as nossas decisões. Costumamos dizer que dinheiro não
aceita desaforo. Esta é uma realidade que muitos estão descobrindo pela
dor.
Tribuna do Norte
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