O produto pode ser trocado junto ao fornecedor
de forma gratuita. Foto: Divulgação
O Ministério da Justiça anunciou nesta quarta (22) o recolhimento de
mais de 3 milhões de embalagens do analgésico Tylenol (paracetamol) na
dose de 200 mg/ml, em gotas, fabricado entre dezembro de 2011 e novembro
de 2012. O motivo é o risco de o gotejador da embalagem se desprender
total ou parcialmente do frasco. De acordo com informações prestadas
pela Janssen-Cilag Farmacêutica, fabricante do produto, ao ministério, a
superdosagem do remédio pode causar danos graves ao fígado, náusea e
problemas gastrointestinais. A campanha de recall vai começar na próxima
segunda e vai incluir a numeração de lote não sequencial entre os
intervalos PPL055 e RJL123.
Enquanto isso, uma pesquisa divulgada pela revista científica New Scientist
alerta sobre os riscos que o paracetamol traz para a saúde depois que
foi divulgado que o analgésico se tornou a principal causa de
insuficiência hepática nos Estados Unidos. O estudo mostra que a
proporção de problemas no fígado causados pelo medicamento chegou a 51%
do total em 2003. Em 1998, esta proporção era de 28%.
Os cientistas americanos responsáveis pelo estudo chegaram à
conclusão de que 20 comprimidos de paracetamol por dia são suficientes
para causar insuficiência hepática e levar à morte – a dose máxima
recomendada é de oito.
Em entrevista ao UOL News, o toxicologista Anthony Wong, do Centro de
Assistência Toxicológica do Hospital das Clínicas, deu uma aula sobre o
que se deve e o que não se deve fazer no uso do paracetamol, admitiu
não saber por que o remédio ainda continua no mercado e explicou que a
dosagem perigosa varia de pessoa para pessoa.
“A quantidade de comprimidos é altamente variável. Só aqui no Brasil
tem comprimido de 750mg. Na Inglaterra só tem de 500mg e de 360mg. Nos
Estados Unidos existem comprimidos de até 1g, mas isso ainda é muito
restrito. Nos Estados Unidos, inclusive, já há restrições, com
advertência de caixa preta, para que as pessoas não tomem paracetamol
com bebida alcoólica. Se tomar mais de 3 doses de bebida alcoólica não
pode tomar paracetamol.”
Ainda sobre a dosagem, lembrou: “20 comprimidos é uma dose média, mas
há pessoas que já tiveram falência hepática tomando 8 comprimidos de
500mg, que dá 4g. É importante salientar que a máxima diária são 4g de
paracetamol, desde que não tenha álcool, problema hepático ou o paciente
não esteja tomando um outro remédio.”
Nada de paracetamol na ressaca
Ele contou que a velha prática de tomar um comprimido com paracetamol
em dias de ressaca para combater a dor de cabeça deve ser completamente
abolida da vida das pessoas. “É uma boa advertência para essa época de
natal e ano novo. Não se pode tomar um porre e depois tomar paracetamol,
pois pode causar lesão hepática fulminante mesmo em doses menores do
que 20 comprimidos. Também não pode tomar aspirina, porque ela aumenta o
sangramento gástrico.”
Para Anthony Wong, a pesquisa vem numa boa hora. “É importante e
muito bem-vindo o alerta, porque os americanos e principalmente os
brasileiros tomam remédios como se fossem ‘M&Ms’. Não pode.” Ele
contou que nos Estados Unidos, além da morte causada por falência
hepática, o paracetamol é a principal causa de morte por intoxicação de
todos os remédios que existem no país.”
“Então por quer ainda está no mercado?”, perguntou a jornalista. “Nos
Estados Unidos tem um forte trabalho de marketing em cima do FDA. Já na
Europa há muitas restrições. Na Inglaterra, por exemplo, só se pode
comprar uma caixa por mês.”
Segundo o médico, febre muito alta, jejum prolongado ou vômito
prolongado em crianças ou adultos são muito perigosos. “Isso esfolia a
pessoa de radicais que são necessários para neutralizar o paracetamol.”
O efeito no fígado
Segundo o médico, o efeito do paracetamol no fígado é tardio. “Depois
de 12 horas a pessoa começa a sentir náuseas. Depois de 24 horas começa
a ter dor de cabeça muito forte por causa da lesão do fígado. E aí não
adianta dar nada, porque o antídoto só funciona, na melhor das
hipóteses, antes de 24 horas. Depois disso é muito tarde.”
Ele contou que há 3 anos saiu na Pediatrics um estudo
alertando para esse efeito, dizendo que uma criança que tomou
paracetamol e está vomitando poderia estar com overdose de paracetamol.
“E tanto é verdade que muitos centros já aplicam um antídoto quando uma
criança que tomou paracetamol é atendida e a mãe não sabe dizer qual foi
a dose. Depois fazem a dosagem. Se for baixa, suspendem o antídoto.”
O paracetamol e a febre
Anthony Wong lembrou que vários antigripais contêm paracetamol. Lillian
pediu para o médico citar alguns nomes-fantasia para que as pessoas
pudessem saber de que remédio estão falando. Citou como alguns exemplos
Tylenol, Naldecon, Cheracap, Cedrin e Dimetap. “Quase todos os
antigripais têm paracetamol e muito facilmente causam overdose.”
O especialista explicou que não se deve nunca começar um tratamento
de gripe com aspirina. “Motivo: existe uma doença chamada Síndrome de
Reye, que causa a destruição fulminante do fígado se a pessoa tomar
aspirina e tiver propensão genética de destruição maciça no fígado.” Ele
contou que essa advertência sobre o uso da aspirina foi feita no fim da
década de 70, começo da década de 80.
“Quando saiu essa advertência, a incidência de Reye nos Estados
Unidos era mais ou menos de mil casos por ano. Praticamente 95% das
pessoas morriam. No Brasil não era muito menor. Depois da advertência, o
número de casos caiu para 25 ao ano. Isso demonstra que existe uma
associação causal com uso da aspirina.”
Alternativas
O médico deu algumas alternativas ao paracetamol. “Tenho uma certa
preferência pela dipirona (novalgina), mas o ibuprofeno (advil para
adulto e alivium para criança), que está entrando agora no mercado, é
bastante seguro.” Wong lembrou que nem a aspirina nem o paracetamol
podem ser ingeridos em casos de dengue. O primeiro porque causa
sangramento e o segundo porque ataca o fígado.
Sobre reação anafilática, Wong explicou que independe do medicamento.
“Pode acontecer com qualquer remédio, desde dipirona, pinicilina (o
mais comum de causar alergia), ácido acetilsalicílico, até picada de
abelha. A dica é: evite ao máximo tomar remédio. Se precisar, tome com
cautela, com cuidado, mesmo que seja a 1/10 de vez que estiver tomando
aquele remédio.”
O paracetamol e a estatinaA jornalista Lillian Witte Fibe perguntou a ele se é perigoso misturar o paracetamol com a estatina, que é usada para o controle do colesterol. “Ainda não foi demonstrada uma associação entre os dois. Parece que atuam em lugares diferentes dentro da célula hepática. Sabemos que alguns antibióticos, como a rifampicina, usada para tuberculose, e também alguns antibióticos da linha do cipro podem se associar ao paracetamol e provocar uma lesão de fígado.”
Fonte: Uol
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