Foto: Aldair Dantas
Dominguinhos deixa um legado grandioso que vai além de sua música e ecoa
pelo Brasil na forma de memórias, encontros e parcerias
Por Alexis Peixoto - Repórter
Apesar
da fama e do respeito de que gozava no cenário da música nacional e
internacional, Dominguinhos era conhecido principalmente pela sua
generosidade e gentileza. Diz a lenda que o músico tinha por regra nunca
recusar um pedido de show ou para participar de alguma gravação. Há
quem diga que foi essa vida intensa entre estúdios, viagens e shows que
acabou por levá-lo na última terça-feira (23), aos 72 anos, em São
Paulo, depois de um longo período de internação no Hospital
Sírio-Libanês, em decorrência de complicações infecciosas e cardíacas
desenvolvidas durante o tratamento contra um câncer de pulmão. Sem a
presença física do artista, ficam as lembranças das realizações de
Dominguinhos fez pelo Brasil afora. No Rio Grande do Norte, além de
amigos e parceiros, o cantor e sanfonista deixou duas gravações
inéditas. Uma delas, uma versão musicada de um poema de Câmara Cascudo.
No
dia 2 dezembro de 2012, uma dia após se apresentar no Forró da Lua,
Dominguinhos registrou a sanfona na faixa “Agreste”, composição de Dácio
Galvão e Gereba, no estúdio montado na fazenda Bonfim, em São José do
Mipibu. O plano era que o sanfoneiro também colocasse a voz na música, o
que só não foi feito na ocasião porque, como era de manhã cedo,
Dominguinhos não havia realizado os exercícios de aquecimento vocal na
hora da gravação. Na mesma sessão, Dominguinhos também gravou o
instrumental de uma versão musicada para o poema “Não Gosto de Sertão
Verde”, de Câmara Cascudo, com arranjo de Jubileu Filho.
Divulgação
Em 1989, num dos shows em Natal. Dominguinhos chegou a gravar
o Hino da ABC do compositor Dosinho
Segundo
Dácio Galvão, toda a sessão foi filmada e existe a intenção de
editar as imagens e lançar um documentário, complementado com o acervo
fotográfico de Candinha Bezerra do projeto Nação Potiguar, do qual
Dominguinhos participou em diversas ocasiões. Enquanto isso, a faixa
“Agreste”, permanece inédita e deve ganhar uma versão com outro
vocalista.
“Estamos discutindo quem colocaria a voz, quem
poderia substitui-lo. Vai ser difícil, já que o arranjo foi todo
preparado para o timbre da voz dele” , disse Dácio.
Para o poeta
e presidente da Fundação Cultural Capitania das Artes, Dominguinhos
deixou um legado profundo na música potiguar. “Muito mais do que a
participação dele em shows ou discos, o que Dominguinhos deixou para a
música potiguar foi o registro do seu canto e da sua sanfona,
inigualáveis na música brasileira”, disse Galvão, que escreveu o poema
“Toada da Barra do Rio Grande” para Dominguinhos musicar.
Aldair Dantas
Com a sanfona que doou para o Museu do Vaqueiro, sua
última passagem pelo Rio Grande do Norte
Um
dos potiguares que mais conviveram com Dominguinhos foi o produtor
cultural Marcos Lopes, idealizador do Museu do Vaqueiro e do Forró da
Lua. Lopes contou ao VIVER que o germe do projeto surgiu a partir de uma
conversa com o músico, no final dos anos 1990.
“Em 1999, fiz um
evento em homenagem a Luiz Gonzaga e resolvi entrar em contato com
Dominguinhos, que eu havia conhecido alguns anos antes”, conta Lopes.
“Ele veio tocar e nós começamos a conversar sobre a ideia de fazer um
evento de resgate do forró autêntico, que mais tarde virou o Forró da
Lua”.
Entre 2003 e 2012, Dominguinhos manteve o compromisso de se
apresentar pelo menos uma vez por ano no Forró da Lua. Um dos últimos
shows do artista foi justamente dentro do projeto, em dezembro do ano
passado. Na ocasião, Dominguinhos aproveitou para doar uma sanfona ao
acervo do Museu do Vaqueiro, uma réplica do instrumento utilizado pelo
próprio Gonzagão.
Aldair Dantas
Com a sanfona que doou para o Museu do Vaqueiro,
sua última passagem pelo Rio Grande do Norte
Marcos
Lopes lembra de Dominguinhos como uma pessoa de personalidade generosa e
humilde. “Ele era um cara muito simples. Diferente da maioria dos
artistas, não exigia nada no camarim, ônibus especial, nada disso”. O
Forró da Lua está em recesso, mas Marcos Lopes avisa que a edição da
volta, marcada para setembro, será especial em homenagem a Dominguinhos.
“Ele era um dos maiores instrumentistas do Brasil e um artista de
primeira grandeza. Acredito que é mais do que justo homenageá-lo”, disse
Lopes.
A pesquisadora Leide Câmara considera Dominguinhos um
dos artistas de fora do estado que mais participaram da produção musical
do Rio Grande do Norte. “Por ter sido uma espécie de herdeiro de Luiz
Gonzaga, Dominguinhos sempre esteve muito próximo da nova geração do
forró potiguar, gravando, incentivando e convivendo com nossos
artistas”.
Leide Câmara conta que, da última vez em que esteve
com Dominguinhos, no final do ano passado, apresentou ao sanfoneiro a
música “Flor do Jerimum”, do compositor natalense Paulo Tito. “O próprio
Paulo cantou para ele, que se emocionou muito e ficou com a partitura
da música, na intenção de gravá-la. Infelizmente, não deu tempo”,
lamenta a pesquisadora.
Entre as principais composições de
autores potiguares gravadas por Dominguinhos, Leide destaca “Gonzaga
Coração”, de Itanildo Medeiros, registrada no LP “Aqui Tá Ficando Bom”,
de 1990; “A Missa do Vaqueiro”, parceria do seridoense Janduhy Finizola
com Luiz Gonzaga; e “A Fé do Lavrador”, parceria de Dominguinhos com
Janduhy Finizola, também conhecida na versão do Quinteto Violado.
Corpo será sepultado em Pernambuco
O
corpo de Dominguinhos está previsto para chegar à Recife nesta
quinta-feira, para o velório na Assembleia legislativa de Pernambuco.
Embora o filho, Mauro Moraes, tenha declarado que o pai tinha o desejo
de ser enterrado em sua cidade natal, Garanhuns, o local e o horário do
enterro ainda estão indefinidos.
Divulgação
Com o também amigo cantor e compositor Paulo Tito
Dominguinhos e a música potiguar
Parcerias:
“A fé do lavrador” - com Janduhy Finizola, gravada pelo Quinteto Violado no LP “Enquanto a Chaleira Não Chiar”;
“Toada da Barra do Rio Grande”, com Dácio Galvão
Compositores do RN gravados por Dominguinhos:
Itanildo Medeiros - “Gonzaga Coração” (em parceria com Juarez Gonzaga e Zé Sanfoneiro)
Dosinho - “O mais querido” (Hino do ABC Futebol Clube)
Hermelida - “Forró Traçado” (em parceria com Bastinho Calixto)
Participações em Cds de artistas potiguares:
Galvão Filho - “Forró de verdade e pra valer”, 2012. Participação especial.
Elino Julião - “Registros Iconográficos do Sertão”, 2010. Participação especial.
Marina Elali - “Longe ou Perto”, 2009. Participação especial.
Coletânea “K-Ximbinho – Sanfonado”, 2009. Sanfona e voz na faixa “K-xim-bodega”.
Câmara Cascudo - “Brouhaha”, 2009. Participação nas faixas “Poema 1” e “Poema 3”.
Dácio Galvão – “Poemúsicas”, 2009. Participação com voz e acordeon.
CD da Banda Sinfônica do Rio Grande do Norte, 2007. Acordeon e voz na faixa “Toada da Barra do Rio Grande”.
Marina Elali – “De Corpo e Alma Outra Vez”, 2007. Participação especial.
Marina Elali - “Marina Elali”, 2005. Sanfona na faixa “Sabiá”.
Coletânea “Toque & Cantares de Tibau do Sul”, 2004. Voz e sanfona.
Carlos Zens – “Fuxico de Feira”, 2004. Participação com sanfona e voz.
Elino Julião – “O canto do Seridó”, 1998. Participação especial.
Germano Júnior - “É bom, é demais”, 1997. Participação especial.
Fonte: Leide Câmara/ Instituto Acervo da Música Potiguar
Tribuna do Norte
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