Difícil não haver um dia
sem que algum tipo de dor se manifeste em nós. E isso só aumenta com o
avançar da idade. As engrenagens do corpo começam a dar sinais de
desgaste e passam a ficar mais doloridas no executar de determinadas
ações cotidianas. Manifestações de dor atingem as pessoas das
mais diferentes formas. Há quem aguente firme o rojão e quem seja
sensível a qualquer pegada mais forte.
Alex Régis
Pesquisa aponta quais tipos de dores incomodam mais
o brasileiro e quais as mais causam afastamento do trabalho
Dores no trabalho
Uma
pesquisa online, inédita, realizada pelo Ibope e Instituto Conecta,
encomendada pelo analgésico Advil, traçou um panorama sobre a dor entre
os brasileiros e como ela atrapalha o nosso dia a dia. Foram ouvidas
1.007 pessoas, homens e mulheres, a partir dos 18 anos, das classes
ABCDE, de todo o país e com acesso à internet. O impacto da dor
na vida de algumas pessoas é tão grande que três em cada cinco cidadãos
dizem deixar de realizar duas de três atividades diárias devido a ela. As
dores mais comuns entre os brasileiros são a de cabeça e enxaqueca
(65%), dor nas costas (41%) e dor muscular (40%), apontadas como as mais
frequentes nos últimos três meses. Mas a grande vilã é mesmo a dor de
cabeça, tida como a que mais atrapalha o dia a dia de 20% de todos os
entrevistados.
Para 63% dos
entrevistados, o trabalho é a principal atividade afetada, à frente do
sono (32%), atividades domésticas (30%) e nem mesmo o lazer ficou de
fora (29%).
Mas apesar das complicações que a dor causa no
trabalho de muita gente, não é isso que vai fazer as pessoas se tornarem
menos responsáveis. Apenas 6% dos consultados na pesquisa deixaram de
cumprir suas responsabilidades.
Alex Régis
Pesquisa aponta que, depois da dor de cabeça,
dor nas costas é que mais atrapalha os brasileiros
Mas
mesmo não fugindo da realidade diária, a execução das tarefas é
afetada. “Sentimos dor devido a algum desbalanço entre estímulos
dolorosos vindos do meio externo e ou interno do organismo e também pela
capacidade do corpo em lidar com eles. Quando a dor persiste por mais
tempo ou não é adequadamente controlada, há impactos em áreas do cérebro
que podem comprometer o humor, o bem-estar, a capacidade de raciocínio,
a concentração e até a qualidade de execução das atividades do dia a
dia. É como se o trabalho estivesse sendo desempenhado, mas sem ser o
foco principal, comprometido pela dor”, explicou Lin Tchia, fisiatra do
Centro de Dor do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Ela
considerou os resultados da pesquisa muito interessantes por ilustrar
“exatamente” o pensamento no momento de dor. “Como precisamos de
disposição para realizar todas as atividades, o alívio rápido da dor
será sempre o maior desejo de todos.”
Dor é sinal de que algo está errado
Seja
doença, inflamação ou resposta de defesa a alguma ação contundente, a
dor sempre representa um alerta. Pior seria sem ela, pois dificilmente
conseguiríamos defender ou proteger nosso organismo.
Independente
do tipo, dor não é algo para ser guardado. O alerta é da reumatologista
Maria de Fátima Fernandes Dantas, comentando serem cada dia mais
constantes as queixas de dor em seu consultório.
Segundo ela,
só para se ter uma ideia, existem mais de 130 tipos diferentes de
doenças descritas como dores reumáticas. “Dor não é doença. Ela é um
elemento auxiliar que chama a atenção para um problema. Ruim são as
doenças silenciosas”, comenta Maria de Fátima.
Lombalgia,
fibromialgia e artrite reumatóide são as campeãs de reclamações entre os
seus pacientes. De acordo com a reumatologista, a primeira citada é a
principal causa de faltas ao trabalho nos dias de hoje. E sua causa pode
ser articular, muscular, motivada por processos posturais, por hérnia
de disco, por exercício físico mal executado ou ainda por artrose na
coluna lombar.
A reumatologista suspeita estar havendo uma onda
de excesso de diagnósticos relacionados à fibromialgia. Segundo ela,
apesar de ser bastante comentada de uns tempos pra cá, a doença não é
tão frequente como supõe a quantidade de novos casos identificados.
Fechar
um diagnóstico preciso de fibromialgia não é tarefa tão fácil, já que
não pode ser detectada por exames laboratoriais e radiológicos. “É
preciso conhecer o perfil do paciente em, pelo menos, três consultas,
para que se possa analisar melhor o caso. Deve-se fazer também um exame
físico e conhecer o histórico da pessoa; além de apalpar pontos
dolorosos. Também depende do perfil psicossomático do paciente, pois
existem pessoas muito tensas e ansiosas.”
Maria de Fátima
Fernandes Dantas faz questão de ressaltar a importância de não guardar
dúvidas com relação ao aparecimento de algum tipo de dor. “Seja qual for
o tipo, dor não pode ser rechaçada. Não pode guardar! Notando algo
estranho, deve-se levar o paciente ao médico o mais rápido possível para
que seja feita uma investigação do que está acontecendo, a causa
daquela dor”, indica.
Alívio imediato é objetivo na hora da dor
A
pesquisa “A dor no cotidiano” também relacionou resultados no tocante
ao que as pessoas mais desejam no momento da dor. Resultado: alívio
rápido para que possam voltar às atividades cotidianas — sendo que 92%
esperam que passe rápido, 86% pensam no que pode ser feito para melhorar
o mais rápido possível e 78% imaginam algum recurso para o alívio
imediato.
E entre os recursos disponíveis para melhorar um quadro
de dor estão os analgésicos e a acupuntura. As queixas sobre esse mal
correspondem a mais de 70% dos pacientes que procuram consulta em sua
clínica.
Ele comenta ser a acupuntura uma boa alternativa para
tratar a dor, juntamente com medicamentos específicos. A milenas técnica
das agulhas libera endorfinas, proporcionando uma sensação de bem
estar.
De acordo com Levi Jales, acupunturista e presidente da
Sociedade Brasileira para Estudo da Dor no Rio Grande do Norte
(Sbed/RN), a dor mais frequente entre os paciente é a dor de cabeça —
como bem aponta a pesquisa do Ibope Conecta —, seguida pelas lombalgias
(dores nas costas), além das tendinites em ombros e articulações em
geral.
Para Jales, as dores nas articulações podem estar ligadas
ao estresse e à depressão, problemas bastante comuns nesses tempos
atuais. Nesses casos, os antidepressivos acabam colaborando,
principalmente em casos crônicos.
Ele, porém, lamenta o alto
índice de automedicação, admitindo ser um comportamento bastante
frequente. “A gente se preocupa, pois quando o paciente se automedica,
encobre sintomas e acaba dificultando o diagnóstico para o médico.”
A
fisiatra do Centro de Dor do Hospital das Clínicas de São Paulo, Lin
Tchia, todas essas dores apontadas na pesquisa têm relação com a chamada
vida moderna. “Hoje em dia a vida é muito corrida, o estilo de vida
contemporâneo provoca, entre outros fatores, o aumento de estressores
físicos e emocionais, as multitarefas, o sedentarismo e a alimentação
fast food. Este aspectos estão totalmente conectados às queixas das
pessoas com dor”, avalia a fisiatra.
Levi Jales comenta haver
hoje no Brasil uma média de 20 mil acupunturistas, considerado por ele
um número baixo, levando-se em consideração haver na Alemanha mais de 20
mil. “Todo profissional e acadêmico de saúde deve estudar a dor, porque
é um dever nosso aliviar a dor de quem nos procura.”
Tribuna do Norte
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