Vício destrói vidas e começa cada vez mais cedo. Dependentes precisam se superar para vencer doença
Por Sérgio Henrique Santos
Josino Ribeiro (nome fictício), 55, hoje trabalha como porteiro em uma escola, mas já foi funcionário público federal, lotado como técnico administrativo, que iniciou sua carreira na UFRN em 1974, ao lado da poetisa Zila Mamede, que dá nome à biblioteca do campus. De lá, saiu envergonhado. Após várias suspensões, ele foi demitido por justa causa em 1º de março de 2005, após enfrentar dois processos administrativos por ter furtado repetidas vezes as peças de alguns computadores para manter seu vício: a bebida.
Por Sérgio Henrique Santos
Josino Ribeiro (nome fictício), 55, hoje trabalha como porteiro em uma escola, mas já foi funcionário público federal, lotado como técnico administrativo, que iniciou sua carreira na UFRN em 1974, ao lado da poetisa Zila Mamede, que dá nome à biblioteca do campus. De lá, saiu envergonhado. Após várias suspensões, ele foi demitido por justa causa em 1º de março de 2005, após enfrentar dois processos administrativos por ter furtado repetidas vezes as peças de alguns computadores para manter seu vício: a bebida.
"Depois disso, parei de beber. E após deixar o vício de lado, chegou a parte mais difícil. Me livrar do que a bebida trazia: mentiras, falsidades, mulheres, ilusões. Hoje me afasto ao máximo de tudo que me arrependo de ter feito com quem não merecia, especialmente minha mulher (com quem vive há 12 anos), meus filhos e meus pais. Eu venci o alcoolismo", contou. Josino enfrenta, hoje, outro dilema. O filho, de 20 anos, tenta se recuperar da dependênciado crack em uma clínica de reabilitação. "Cheguei a buscar meu filho no Passo da Pátria, onde ele tinha ido comprar drogas. Mas meu vício sempre foi a bebida. Nunca quis saber de drogas".
Dramas como os que viveu Josino são muito comuns. Apesar de 88% da população mundial (estimada em 6 bilhões e 800 milhões de pessoas) conseguir beber moderadamente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 12% do total está pré-disposta a consumir álcool e drogas, o que representa 700 milhões de pessoas. Considerando o total da população brasileira pelo Censo 2010 de 190,732 milhões de habitantes, o Brasil concentra 22,887 milhões de pré-dispostos ao álcool. Em âmbito local, o Rio Grande do Norte (que tem 3.168.133 habitantes), possuiria 380.175 pessoas pré-dispostas ao álcool ou drogas, segundo as estatísticas.
Não há apenas um único diagnóstico. O alcoolismo é o conjunto de problemas relacionados ao consumo excessivo e prolongado do álcool, caracterizado pelo vício de ingestão excessiva e regular de bebidas alcoólicas. Com um histórico de 5 mil pacientes, 33 novos por dia, a Unidade de Tratamento do Alcoolismo e Outras Dependências (Utad), que funciona no ambulatório de psiquiatria do Hospital Universitário Onofre Lopes (UFRN), é um lugares dos mais procurados para tratamento do alcoolismo, o lado dos Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (Caps-AD), nas Zonas Leste e Norte da capital.
Juçara Machado Sucar, enfermeira com mestrado na área de assistência e atenção do dependente químico, coordena a equipe da Utad desde 1995. "O gratificante é saber que conseguimos intervir e reinserir o indivíduo na sociedade. Por outro lado, a dependência química não tem cura, e é preciso ficar alerta com relação a isso. Contudo, o frustrante é que ainda não se tem um projeto na área de prevenção. Se investe muito na atenção curativa, terciária, e se esquece da atenção preventiva, que é a mais importante", opina.
Segundo a enfermeira, o problema da dependência tem três etiologias: orgânica, psicológica e social. "O conceito desaúde mudou. Deixou de ser ausência de doença e passou a ser um completo bem-estar biopsicossocial. Ou seja, o vício no álcool tem a ver com a vida do indivíduo em sua totalidade", disse ela.
Alcoólicos Anônimos
Por ser lícito, o álcool é uma substância primária que leva a vários outros problemas. "Aprender a fechar a porta para o álcool é fechar a porta também a estes outros problemas", opina a presidente da Junta Nacional dos Alcoólicos Anônimos do Brasil, Sandra Lúcia Oliveira Rodrigues da Silva, que esteve em Natal na semana passada participando de alguns eventos. "Como o alcoolismo é uma síndrome, faz parte da síndrome a negação. Ou seja, às vezes até as pedras sabem que a pessoa é alcoólatra, menos a própria pessoa".
Sandra é custódia não alcoólica profissional que se dedica voluntariamente ao AA. Por isso ela pode dar entrevistas e mostrar o rosto. Já os membros da entidade, que completou 36 anos de atuação no Rio Grande do Norte, não. "O anonimato é importante para garantir nossos legados, tradições e princípios. Quem tem que ser divulgado é o AA, e não seus membros". Questionada se ela própria bebe, Sandra foi enfática. "Não bebo por opção, por uma escolha. Lidando com tantos problemas, vejo que não me faz falta alguma. Sigo algo que acredito no AA: se você quer beber o problema é seu. Se quer parar de beber o problema é nosso".
Jovens e o álcool
Em geral o vício no álcool começa na juventude. As consequências normalmente aparecem após os 30 anos. Não foi o caso, contudo, da cantora inglesa Amy Winehouse, morta sábado passado (23) e que, segundo os pais, ocorreu por abstinência de álcool. No Brasil é muito comum os jovens participarem de festas regadas a bebedeiras, e cultuarem o alcoolismo ao falso senso de bem-estar.
"Os riscos de mortes prematuras são inúmeros", alerta Juçara Machado Sucar, coordenadora da Unidade de Tratamento do Alcoolismo e Outras Dependências (Utad). "Acidentes de trânsito, por exemplo, muitas vezes são provocados por causa do uso de álcool". Ela lembra que o comportamento transmissor é estimulado pelos pais dentro de casa, quando não há orientação sobre o uso indevido de bebidas alcoólicas. "Em muitas festas de aniversário, por exemplo, o uso de bebidas é comum em adolescentes e até mesmo em crianças. Os pais tem a responsabilidade de orientar os filhos quanto à aquisição de hábitos saudáveis de vida".
Sandra Lúcia afirmou que são cada vez mais comuns aparecerem jovens com menor idade em busca de ajuda por causa da dependência do álcool. "Conheço crianças com 9, 10 anos de idade precisando de tratamento. Quando o organismo ainda está em formação, como é o caso de crianças e adolescentes, é pior ainda", revelou.
Dramas como os que viveu Josino são muito comuns. Apesar de 88% da população mundial (estimada em 6 bilhões e 800 milhões de pessoas) conseguir beber moderadamente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 12% do total está pré-disposta a consumir álcool e drogas, o que representa 700 milhões de pessoas. Considerando o total da população brasileira pelo Censo 2010 de 190,732 milhões de habitantes, o Brasil concentra 22,887 milhões de pré-dispostos ao álcool. Em âmbito local, o Rio Grande do Norte (que tem 3.168.133 habitantes), possuiria 380.175 pessoas pré-dispostas ao álcool ou drogas, segundo as estatísticas.
Não há apenas um único diagnóstico. O alcoolismo é o conjunto de problemas relacionados ao consumo excessivo e prolongado do álcool, caracterizado pelo vício de ingestão excessiva e regular de bebidas alcoólicas. Com um histórico de 5 mil pacientes, 33 novos por dia, a Unidade de Tratamento do Alcoolismo e Outras Dependências (Utad), que funciona no ambulatório de psiquiatria do Hospital Universitário Onofre Lopes (UFRN), é um lugares dos mais procurados para tratamento do alcoolismo, o lado dos Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (Caps-AD), nas Zonas Leste e Norte da capital.
Juçara Machado Sucar, enfermeira com mestrado na área de assistência e atenção do dependente químico, coordena a equipe da Utad desde 1995. "O gratificante é saber que conseguimos intervir e reinserir o indivíduo na sociedade. Por outro lado, a dependência química não tem cura, e é preciso ficar alerta com relação a isso. Contudo, o frustrante é que ainda não se tem um projeto na área de prevenção. Se investe muito na atenção curativa, terciária, e se esquece da atenção preventiva, que é a mais importante", opina.
Segundo a enfermeira, o problema da dependência tem três etiologias: orgânica, psicológica e social. "O conceito desaúde mudou. Deixou de ser ausência de doença e passou a ser um completo bem-estar biopsicossocial. Ou seja, o vício no álcool tem a ver com a vida do indivíduo em sua totalidade", disse ela.
Alcoólicos Anônimos
Por ser lícito, o álcool é uma substância primária que leva a vários outros problemas. "Aprender a fechar a porta para o álcool é fechar a porta também a estes outros problemas", opina a presidente da Junta Nacional dos Alcoólicos Anônimos do Brasil, Sandra Lúcia Oliveira Rodrigues da Silva, que esteve em Natal na semana passada participando de alguns eventos. "Como o alcoolismo é uma síndrome, faz parte da síndrome a negação. Ou seja, às vezes até as pedras sabem que a pessoa é alcoólatra, menos a própria pessoa".
Sandra é custódia não alcoólica profissional que se dedica voluntariamente ao AA. Por isso ela pode dar entrevistas e mostrar o rosto. Já os membros da entidade, que completou 36 anos de atuação no Rio Grande do Norte, não. "O anonimato é importante para garantir nossos legados, tradições e princípios. Quem tem que ser divulgado é o AA, e não seus membros". Questionada se ela própria bebe, Sandra foi enfática. "Não bebo por opção, por uma escolha. Lidando com tantos problemas, vejo que não me faz falta alguma. Sigo algo que acredito no AA: se você quer beber o problema é seu. Se quer parar de beber o problema é nosso".
Jovens e o álcool
Em geral o vício no álcool começa na juventude. As consequências normalmente aparecem após os 30 anos. Não foi o caso, contudo, da cantora inglesa Amy Winehouse, morta sábado passado (23) e que, segundo os pais, ocorreu por abstinência de álcool. No Brasil é muito comum os jovens participarem de festas regadas a bebedeiras, e cultuarem o alcoolismo ao falso senso de bem-estar.
"Os riscos de mortes prematuras são inúmeros", alerta Juçara Machado Sucar, coordenadora da Unidade de Tratamento do Alcoolismo e Outras Dependências (Utad). "Acidentes de trânsito, por exemplo, muitas vezes são provocados por causa do uso de álcool". Ela lembra que o comportamento transmissor é estimulado pelos pais dentro de casa, quando não há orientação sobre o uso indevido de bebidas alcoólicas. "Em muitas festas de aniversário, por exemplo, o uso de bebidas é comum em adolescentes e até mesmo em crianças. Os pais tem a responsabilidade de orientar os filhos quanto à aquisição de hábitos saudáveis de vida".
Sandra Lúcia afirmou que são cada vez mais comuns aparecerem jovens com menor idade em busca de ajuda por causa da dependência do álcool. "Conheço crianças com 9, 10 anos de idade precisando de tratamento. Quando o organismo ainda está em formação, como é o caso de crianças e adolescentes, é pior ainda", revelou.
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