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sábado, 5 de novembro de 2011

Desvendando os mistérios de todos os tipos de sonhos

Ciência


Pesquisador da UFRN estuda mecanismos do sono para ajudar pacientes a combater pesadelos
Por Maiara Felipe // maiarafelipe.rn@dabr.com.br

"Ufa! Ainda bem que foi só sonho". Se você ainda não se expressou dessa forma, fique certo que isso vai acontecer. Durante o sono, o cérebro coloca em evidência combinações que parecem para quem está sonhando as mais absurdas possíveis. Apesar de ser engraçado quando acordamos e lembramos das bizarrices que vivemos na hora do sono, existem pessoas que sofrem com os pesadelos frequentes. Mas esse desconforto pode estar perto do fim. Vai depender do resultado da pesquisa desenvolvida por Sérgio Arthuro Mota Rolim, do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). O doutorando quer saber como o cérebro funciona durante o sonho lúcido (quando o indivíduo sabe que está sonhando) e assim estimular a mente artificialmente na hora do pesadelo. "Se a pessoa aprende a ter o sonho lúcido, ela vai saber que aquilo é um pesadelo.", explicou.

Sérgio Arthuro Mota Rolim é pesquisador do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do RN Foto: Ana Amaral/DN/D.A Press "Sonho é qualquer atividade mental durante o sono", define o pesquisador de forma mais geral. O primeiro passopara entender como será desenvolvida a pesquisa de Sérgio é descrever a classificação dos sonhos, que o mesmo pretende criar e tornar pública ainda este ano. A maioria das pessoas tem basicamente quatro tipos de sonhos: normal, lúcido, falso despertar e pesadelo. O denominado sonho normal é aquele que por mais estranho que ele seja, você acredita que é um sonho ou um pesadelo. O falso despertar pode ser identificado no instante em que você acha que acordou, segue sua rotina normal, e daqui a pouco, acorda outra vez. Já o lúcido somente é possível na hora do sono R.E.M ( momento do sono em que há um movimento rápido dos olhos). "Algumas pessoas durante o sono R.E.M sabem que estão sonhando durante o sonho. A ideia do sonho é você aceitar a loucura. No sonho lúcido você duvida", explicou Arthuro.

A pergunta principal da pesquisa de Arthuro é se existe alguma diferença no padrão de atividade cerebral no sonho lúcido quando comparado ao não lúcido. "Será que o cérebro funciona de forma diferente quando eu sei queestou sonhando de quando eu não sei?", questiona. Nas primeiras avaliações feitas no laboratório do sono do Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL), onde Sérgio já monitorou 50 voluntários desde 2008, ano em que iniciou o doutorado, foi percebido que existe uma ativação principalmente na região frontal do cérebro. Essa é a parte do cérebro em que são realizadas as tomadas de decisões e por isso os sonhos lúcidos devem ter mais lógica e se enquadrar dentro das ações típicas daquelas pessoas. Durante uma noite toda, o pesquisador monitora o voluntário com eletrodos nas mais diversas partes do corpo e faz a polisonografia que registra o sono de várias formas.

Atualmente a pesquisa está na fase de aplicação de questionários. "Eu criei a pesquisa e apliquei na internet", lembrou. Cerca de 3.600 questionários, com 10 perguntas sobre sonho e a mesma quantidade a respeito de sonhos lúcidos, foram respondidos até agora. O trabalho de coleta de dados foi iniciado em maio deste ano e Sérgio pretende até o final do ano chegar aos cinco mil questionários, período em que deve defender sua teoria. "Caso alguém tenha sonhos lúcidos com muita frequência pode me procurar no HUOL", avisou o doutorando.

O resultado total da pesquisa pode mudar a vida de boa parte da população que sofre com frequentes pesadelos. "Se eu souber as áreas atuantes no cérebro durante o sonho lúcido eu posso tentar ativá-las artificialmente", salientou o médico sobre uma das aplicações de sua pesquisa. O estímulo artificial deve ser objeto do pós-doutorado de Sérgio e pode ser indicado para pessoas que necessitem aprender a sonhar de forma lúcida. A partir do momento que a pessoa reconhece o pesadelo e não coloca ele como realidade, parte dos transtornos da noite podem estar resolvidos. Essa aplicação clínica da pesquisa ainda está em fase embrionária, mas deve ser colocada em prática assim que for definido as bases biológicas do sonho lúcido.

Noite pelo dia

Desde criança Sérgio, que hoje tem 31 anos, troca o dia pela noite. Ele vai dormir às 5h30 quando muita gente está acordando, e foi esse o principal motivo para entrar na base de pesquisa sobre sono, direcionada pelo professor de neurofisiologia, John Fontenele. No segundo ano de medicina, em 2000, o pesquisador começou a iniciação científica. "Era uma coisa que me interessava muito, porque eu dormia muito", relata sorrindo. O mestrado em 2004 foi sobre a relação entre sono e memória. "Quando a pessoa está privada de sono ela tem déficit de memória. O sono serve para consolidar as memórias que você adquiriu", conceitua. O doutorado no sonho lúcido foi iniciado em 2008 e deve ser concluído ainda este ano.
Diário de Natal

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