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sexta-feira, 16 de março de 2012

Técnica avança na cura de tumores

Saúde 

Por Roberto Lucena - Repórter

A cura do câncer ainda é uma incógnita para a medicina. No entanto, o tratamento de tumores evolui sistematicamente com o passar dos anos. Novas técnicas são desenvolvidas e o combate à doença ganha força de várias maneiras. O frio é o mais novo aliado do homem nessa batalha. Um procedimento conhecido como "crioablação percutânea guiada por imagem" enche de esperanças médicos e pacientes que lutam contra o mal que, até então, desafia a ciência. A técnica usada pela primeira vez no Rio Grande do Norte na última quarta-feira é, segundo os profissionais, menos traumática e mais eficiente.


No Nordeste, apenas Fortaleza-CE e Recife-PE já haviam utilizado o procedimento anteriormente. Em Natal, a cirurgia foi realizada pelos radiologistas intervencionistas Fernando Moura e Ênio Marques. "Essa é uma cirurgia minimamente invasiva. O paciente sequer é suturado. É um avanço no tratamento dos tumores benignos ou malignos", explicou Ênio.

Os procedimentos percutâneos, explica Ênio Marques, são aqueles cujo diagnóstico ou tratamento da doença são realizados através da pele. A ablação percutânea já existe há alguns anos e, nos primórdios, era feita com álcool. Posteriormente, a técnica passou a usar o calor - radiofrequência. "A medicina evoluiu e, há alguns anos, surgiu a crioablação onde usamos o gelo para tratar as lesões", disse. O álcool e calor limitam o tratamento. "Nos rins, por exemplo, há uma cavidade coletora da urina que leva à bexiga. Tratar um tumor nesse órgão com a radiofrequência acaba provocando um furo nessa cavidade e a urina vaza. Com a crioablação, essa lesão é reduzida e quase inexistente", completou.

O procedimento percutâneo é guiado por imagens de raio-x, ultrassonografia, tomografia ou ressonância magnética. Na crioablação, os médicos introduzem no paciente agulhas que conduzem os gases argônio e hélio. O primeiro, congela o tecido, o segundo, esquenta. A cirurgia é simples, porém, requer alguns cálculos e análise das imagens. Em Natal, o procedimento foi realizado na sala de tomografia computadorizada de um hospital particular.

Ao invés de bisturis, os médicos usam agulhas que variam de tamanho. O gás argônio derruba a temperatura do objeto para -150 ºC. A agulha é introduzida no paciente. Pelas imagens no computador, o radiologista sabe se o tumor foi atingido. Se necessário, outras agulhas são introduzidas. Na ponta delas, uma bola de gelo se forma. O gelo congela o tecido do tumor. O próximo passo é o descongelamento súbito com o uso do gás hélio. O processo se repete mais uma vez. "Esse mecanismo faz com que as células da lesão morram. As células do tumor não suportam o resfriamento. O processo é repetido para atingir as células periféricas da lesão. Depois disso, o tumor vira uma cicatriz que é absorvida pelo organismo", explicou Marques.

Por enquanto, a crioablação não é recomendada para todos os tipos de tumores. "Basicamente, as cirurgias minimamente intervencionistas auxiliam às cirurgias convencionais. São indicadas para os pacientes que têm algum tipo de contra-indicação à cirurgia convencional, como diabetes ou hipertensão. No caso da crioablação, é usada no fígado, pulmão, ossos e próstata", afirmou Ênio.

Os médicos não escondem a euforia com a nova técnica. O procedimento faz parte do rol de procedimentos da Agência Nacional de Saúde (ANS) e, teoricamente, todos os planos de saúde são obrigados a oferecerem aos usuários. A técnica, no entanto, ainda não está assegurada pelo Sistema Único de Saúde (SUS). "A ideia é transformar o câncer numa doença crônica, como o diabetes, hipertensão. A intenção é que os pacientes possam viver normalmente, fazendo o acompanhando da doença", disse Fernando Moura.

A medicina ainda não tem um histórico que possa comprovar a eficiência do procedimento. "Existem trabalhos de curto prazo, com menos de cinco anos, que mostram que a ablação percutânea tem índice de 95% de efetividade. Porém, a crioablação ainda não tem números que sustentem a sua efetividade", explicou Ênio. A cirurgia pode ser usada em outros ramos fora a oncologia.

Expectativa de paciente é de cura total

O funcionário público aposentado Humberto Pereira Pinheiro, 66 anos, convive com um tumor em um dos rins há mais de três anos. Os problemas renais surgiram há mais tempo. A idade avançada foi a causadora de outros problemas de saúde como diabetes e cardiopatias. Porém, as dificuldades não retiram a esperança de Seu Humberto. Na noite da última quarta-feira, ele se submeteu ao procedimento de crioablação. O primeiro paciente no Rio Grande do Norte, terceiro no Nordeste. "Estou confiante que tudo vai dá certo", contou pouco antes de entrar na sala de tomografia.

A dona-de-casa Rosilda Pinheiro, esposa de Humberto, também estava no hospital. Não escondia o sorriso no rosto. "A gente luta há muito tempo contra esse problema. Os médicos disseram que essa cirurgia vai ser importante. Estou feliz com essa oportunidade", disse.

Uma biópsia vai revelar se o tumor é maligno ou benigno. A espera pelo resultado, no entanto, será menos angustiante que a espera pela cirurgia, segundo Rosilda. "A gente sabia da cirurgia, estava tudo certo com os médicos. O plano de saúde autorizou", conta.

Porém, demorou demais para esse dia chegar. Um dos problemas que atrasaram a cirurgia foi o transporte do gás argônio.

Por ser um elemento químico instável, o deslocamento do cilindro teve que ser feito via terrestre. "E venho de São Paulo, com o carro andando bem devagar. Demorou mais de uma semana somente nessa viagem", explicou a dona-de-casa.

Nos próximos dias, Humberto vai ficar internado para observação médica. Exames complementares vão trazer informações sobre o estado de saúde dele. A confiança é palavra de ordem entre todos que acompanham o caso. "Tenho certeza que ele ficará curado", disse Rosilda.

Matéria completa e fotos aqui.

Tribuna do Norte

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