Do Correio Web
A idade não é empecilho para se exercitar. Ao contrário, depois dos 60
anos, a atividade física é fundamental para garantir o bom funcionamento
do corpo e da mente. Manter-se ativo ajuda a prevenir e amenizar os
efeitos de doenças como cardiopatias, estresse, osteoporose,
deficiências respiratórias e diabetes. Os benefícios vão além do físico,
porém. Há também a melhora da disposição para executar tarefas
cotidianas, da qualidade do sono e do humor. Visando atender às
necessidades da terceira idade, algumas academias, inclusive, oferecem
atividades específicas e profissionais preparados para atender a essa
faixa etária.
De acordo com pesquisa realizada pela Associação
Brasileira de Academias, o número de idosos que malham saltou de 5% para
30% na última década. Em Brasília, o número de malhadores sexagenários
corresponde a quase 35% dos alunos. Eles são 1,5 milhão de pessoas com
mais de 60 anos matriculadas em academias de todo o Brasil. No início, a
hidroginástica era a atividade mais procurada por eles. Com o tempo,
pilates e alongamento se tornaram populares e a musculação deve, em
breve, ocupar o primeiro lugar na lista. A atividade, que já foi
considerada inadequada para os idosos, passou a ser vista com outros
olhos após pesquisas realizadas, a partir de 1995. O principal deles foi
feito pela American College of Sports Medicine, que comprovou que a
atividade pode estacionar o avanço da osteoporose.
Para a
educadora física Marcia Neide Zmorzynski, essa foi a principal motivação
dos idosos para procurarem as academias. Marcia explica que a
musculação diminui as chances de osteoporose, justamente por aumentar a
massa óssea. "Além de trabalhar o fortalecimento muscular, o idoso ganha
massa óssea, o que diminui o risco de ter o problema. No estágio
inicial, a pessoa até consegue retardar ou estacionar a doença."
Garantir
a autonomia do idoso em tarefas do cotidiano também é um dos objetivos
do fortalecimento muscular. Músculos bem trabalhados significam
facilidade para realizar atividades simples, como subir e descer escadas
ou carregar as compras. O treino é importante para driblar a diminuição
de massa magra. O educador físico Renato Azevedo, que trabalha com esse
público há 15 anos, afirma que todos, a partir dos 30 anos, perdem 5%
da força muscular a cada cinco anos. Para reduzir os danos, o ideal é
praticar a musculação três vezes por semana.
Uma alternativa para
quem precisa fortalecer a musculatura, mas tem limitações físicas, é o
programa Elastos, do Grupo de Estudos e Pesquisa sobre Atividade Física
para Idosos (Gepafi), que funciona desde 2004, no Centro Olímpico da
Universidade de Brasília. O programa foi desenvolvido por um aluno de
mestrado. Nele, o idoso trabalha com ligas de plástico dobradas. Cada
liga equivale a um peso de cinco quilos. Outro programa do Gepafi é o
circuito de equilíbrio, elaborado para estimular a estabilidade e evitar
quedas. Nesse circuito, os alunos treinam a estabilidade em diferentes
estações. Alguns exercícios são feitos com bola, outros desafiam o aluno
a ficar de pé em uma perna só para alcançar obstáculos altos.
Um
dos exercícios preferidos entre os mais velhos, a hidroginástica é uma
atividade de baixo impacto, indicada para fortalecer as articulações.
"Trabalhamos articulações especiais, como joelho, tornozelo e costas,
que ficam debilitadas com o passar dos anos", explica a professora
Mayara Santana de Sousa. Outro grupo muscular importante trabalhado
nessa aula é o abdômen, que garante o sustento da coluna vertebral. A
água diminui o impacto do exercício, o que permite um ritmo mais
intenso, sem prejudicar a pressão arterial ou provocar cansaço. Além
disso, o ambiente se torna relaxante e facilita o alongamento.
Vitalidade
O
comerciante Severino Alves Xavier, 67 anos, vai à academia cinco vezes
por semana e faz parte de um grupo de corrida. "Quer me ver de mau
humor? É só eu ficar uma semana sem exercício físico", confessa Xavier.
Na academia, ele pratica musculação e dança de salão e, em breve,
pretende nadar. "Eu colho aquilo que plantei quando era jovem. Sempre
fiz esporte. Então, hoje eu sinto essa vitalidade. Meu astral é uma
maneira legal de enfrentar os problemas da vida. Tudo isso eu agradeço à
minha atividade física", afirma.
Xavier começou a correr aos 40
anos, quando quebrou o pé em um jogo de futebol e passou a treinar, por
recomendação médica, caminhadas com trotes no Parque da Cidade. "Comecei
a correr no parque, participei de uma corrida, gostei e aí passei a
participar de todas as corridas de rua da cidade", lembra. O gosto pelo
esporte já o levou a diversas maratonas, entre elas a de São Silvestre e
a da Pampulha, em Belo Horizonte. A última foi a meia maratona de 21
quilômetros do Rio de Janeiro, em julho. Xavier conta que, mesmo quando
viaja por lazer, não dispensa o tênis e o short de corrida.
O
esforço do sexagenário tem recompensa. Xavier não tem problemas de
saúde. Aliás, orgulha-se do resultado de seu checape anual, sempre
saudável. Também está livre de dores. O bom rendimento e a ausência de
patologias são comuns entre os tiveram o hábito de exercitar-se ao longo
da vida. Relacionar-se com outras gerações na academia também não é
problema para o comerciante. Ele conta que se sente à vontade e que a
idade não deve servir de justificativa para ficar em casa. "Muita gente
acha que, porque chegou aos 60, 70, não deve mais fazer atividade
física. Ao contrário, o exercício garante mais qualidade de vida, prazer
de viver e satisfação", recomenda.
Sem correr riscos
Antes
de começar a se exercitar, o idoso deve realizar exames de saúde e
adequar a atividade às suas condições físicas. Há um exercício indicado
para cada pessoa
1. Cuidado com o coração
Para pessoas com
pressão alta ou baixa, varizes e diabetes tipo 2, são indicados
exercícios aeróbicos, como dança, caminhada, corrida e bicicleta. Essas
modalidades também são recomendadas para reabilitação cardíaca após
cirurgia.
2. Para fortalecer os músculos
Exercícios de
musculação são os indicados para quem sofre com doenças no aparelho
locomotor, como fibromialgia, artrite, artrose e osteoporose. Eles
diminuem a fraqueza muscular e ajudam o idoso a ter mais estabilidade.
3. Foco no equilíbrio
Além
de pensar em fortalecer os músculos, idosos com labirintite, medo de
queda e problemas de flexibilidade devem optar por yoga, tai chi chuan
ou pilates. O Gepafi oferece um programa específico, em que os alunos
treinam a estabilidade em diferentes estações, visando a execução de
tarefas rotineiras.
Além do corpo
Praticar
atividades físicas é benéfico também para a mente. As práticas em grupo
promovem interação com outras pessoas e diminuem sentimentos de
solidão, recorrentes na velhice. Márcio de Moura Pereira, educador
físico do Gepafi, revela que os resultados no estado de espírito são
facilmente perceptíveis. "Logo nas primeiras aulas, o idoso relata a
melhora de humor. Dentro do grupo, ele começa a fazer laços de amizade",
afirma.
Pereira conta que alguns chegam a diminuir o uso de
medicações antidepressivas. Os alunos costumam marcar almoços ou
encontros para jogar cartas. A professora de hidroginástica Mayara
Santana de Sousa confirma: "Há senhoras que frequentam a aula mais pelo
social, passam a aula toda conversando e vêm encontrar as amigas".
De
acordo com a educadora física Marcia Neide Zmorzynski, o ideal é que o
convívio se estenda a outras gerações. Especialista em gerontologia, ela
observou que muitos idosos deixavam a atividade física depois de alguns
meses. Feita uma pesquisa com os desistentes, ela conclui que muitos
não se sentiam acolhidos no ambiente. Alguns idosos precisam superar
certas barreiras para praticar exercícios, entre elas sentimento de
intimidação, baixa autoconfiança e falta de incentivo da família. "Mesmo
com motivação interna, ao chegar à academia, eles não conseguiam se
relacionar porque a maior parte das pessoas é mais jovem", explica
Marcia.
Para que haja integração, o papel do professor é
essencial. Ele deve atuar como mediador, ao estimular conversas entre
gerações distintas.
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