Do Correio Braziliense
Cientistas afirmaram na quarta-feira que descobriram a primeira prova molecular de que o "relógio biológico" está ligado a um tipo súbito e fatal de ataque cardíaco. Arritmia ventricular ou batimentos cardíacos anormais ocorrem com mais frequência pela manhã após acordar - e também, em menor escala, no fim da tarde - e causam um maior número de mortes.
Em informações publicadas na revista Nature, pesquisadores dos Estados Unidos afirmaram ter descoberto a primeira ligação molecular entre este risco e o ritmo circadiano, que aponta a variação dos processos biológicos de acordo com um período de 24 horas. Os dados apontam esta ligação com os níveis de uma proteína chamada Klf15, informaram. Pesquisas anteriores descobriram que a Klf15 era uma controladora do ritmo circadiano - e, surpreendentemente -, ela não está presente em alguns pacientes com problemas cardíacos.
O grupo criou camundongos que foram manipulados geneticamente para sofrer com a falta de Klf15 ou produzir esta proteína em excesso. Nos dois casos, os roedores sofreram um risco muito maior de arritmias se comparados a seus pares. "É o primeiro exemplo de um mecanismo molecular que provoca a mudança do ritmo circadiano relacionado à possibilidade de ocorrerem arritmias cardíacas", disse Xander Wehrens, do Baylor College School of Medicine em Houston, Texas.
A Klf15 é apenas um passo em uma complexa cascata molecular, acreditam os pesquisadores. Ela controla outra proteína, a KChIP2, que afeta a corrente elétrica gerada pelo potássio que se dirige às células musculares do coração, chamada de miócitos cardíacos. Quando os níveis de KChIP2 flutuam, isto causa instabilidades elétricas nos miócitos.
Como resultado, as ações do músculo cardíaco ficam comprometidas e este demora mais tempo (ou, inversamente, menos tempo) para esvaziar o ventrículo - a câmara de bombeamento do coração. O coração perde a regularidade dos batimentos e se esforça para bombear o sangue de forma eficiente.
O coautor da pesquisa Mukesh Jain, da escola de Medicina da Universidade Case Western Reserve, em Cleveland, Ohio, afirma que mais estudos podem ajudar a descobrir outras causas relacionadas ao ritmo circadiano. A descoberta abre espaço para caminhos intrigantes de pesquisa, na identificação de indivíduos em risco de morte noturna e na escolha de medicamentos para protegê-los, disse Jain.
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