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sábado, 5 de outubro de 2013

Coma duas e pague uma

Do Blog: Este artigo faz uma profunda reflexão sobre o anúncio "criativo" de um motel e faz uma análise crítica das letras de algumas músicas  atuais. Algumas letras,  chegam a causar náuseas como essa que você já ouviu ou vai ouvir muito: É impar, é par, é impar é par. Se der impar, você chupa se der par, você me dar. Pode isso???

O motel achou criativo e distribuiu pela cidade dezenas de outdoors com a frase: “Coma duas e pague uma”. A iniciativa “sacal” do publicitário tem como objetivo dizer que o motel está dando uma refeição de graça para os casais que usarem os seus serviços. Ele só não especificou qual dos dois produtos sai de graça: a comida ou a mulher, uma vez que o discurso teve a clara intensão de falar de produtos. Fiquei indignado com a iniciativa e comentei com algumas mulheres que demonstraram a mesma aversão. Na mesma hora, me veio à ideia a publicidade dos forrós que anunciam “mulher free até meia-noite” e me lembrei de um forró que fui dia desses que, por pouco, não dá um nó em minhas ideias e deixa minha cabeça em parafuso.

No forró, o publicitário do motel é fichinha perto do que cantam as bandas. Uma delas começou a cantar um refrão entusiasmante: “Ela é rapariga de morrer, fazer o que se o meu coração é doido por ela”. Olhei de lado para ver se estava ouvindo aquilo mesmo e qual não foi a minha surpresa, homens e mulheres levantavam os braços, gritavam e começavam a se rebolar em círculo como se estivessem num terreiro de macumba. O ritmo era bom, confesso, instigante e a música chiclete, mas isso não diminuía o absurdo da letra. Mais à frente, o cantor da banda iniciou outra letra dizendo que estava vendo mulher em todo canto: no armário, na geladeira e até na casinha do cachorro (trecho que diz em meio a um sorriso sarcástico) e que a culpa disso era da mãe dele que o tinha feito um “negão gostosão”. O povo voltou a pular e fechar os olhos.
Já estava rindo da situação quando ele começou a cantar “senta, senta Ana Teresa” e foi repetindo esse refrão até provocar uma dubiedade de sentidos enquanto as dançarinas exibiam um ritual em que sentavam em alguma coisa. No público, as mulheres sentavam também simulando uma atividade sexual. Muitas delas estavam rodeadas dos namorados e maridos que sorriam como se no inconsciente viessem lembranças relacionadas àquele ato. Era uma atitude quase que geral e os que na minha mesa não interagiam eram vistos como estranhos. E na verdade me senti estranho por trazer na minha cabeça pensamentos tão impuros. É como se eu fosse um malicioso em meio a pessoas inocentes que só queriam dançar, se divertir e não se importar com coisas tão sérias como a questão de gênero. Cheguei a me sentir culpado por pensar mal da publicidade do motel e sujo por imaginar tanta bobagem nas letras inocentes daquelas músicas. Fui dormir com sensação de culpa e me lembrando de consultar o analista.
José de Paiva Rebouças
jottapaiva@gmail.com

Jornal de Fato

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