«Breno Rosostolato» (psicólogo) nathany@viveiros.com.br
Vivemos
a era da informática, das informações livres e da acessibilidade fácil e
rápida a elas. As tecnologias se renovam, incessantemente, favorecendo e
permitindo o contato das pessoas a todos os assuntos, a todos os
lugares e a hora que quiserem. Esta é a internet, o mundo de
possibilidades que se veio de fato para ficar e hoje o mundo não
existiria sem ela. A internet é o sol no centro deste sistema
globalizado que aquece a tudo e todos. Mas acontece que, como tudo nesta
vida, a lei criacionista de “causa e efeito” sintetiza uma máxima: tudo
que é demais enjoa. Enjoa, mas também adoece.
Muitos problemas e
dificuldades despontaram por conta do surgimento da internet. Problemas
que nem ousarei enumerar, mas quando refletimos quais seriam eles,
rapidamente identificamos. Admito que muitos já existiam e que a
internet só acentuou sua gravidade. Me limitarei a um agravante que
recebe pompas de transtorno, reconhecido pela Associação Americana de
Psicólogos como uma dependência tão crônica quanto à de substâncias como
álcool e cocaína, a Internet Addiction Disorder (Transtorno do Vício de
Internet).
O problema afeta mais de 50 milhões de pessoas no
mundo, segundo um recente estudo da Universidade La Salle, nos Estados
Unidos. No Brasil, as pessoas que sofrem desta dependência chega a 4,3
milhões. Estes números que só tendem a crescer pela maior facilidade de
acesso à web e pelo desenvolvimento de novas tecnologias. Acho oportuno
mencionar que a namofobia também é um transtorno que consiste no vício
por celulares, smarthphone e tablets. Estes são os nomofóbicos. Pessoas
que ficam angustiadas quando não podem usar o celular. A impossibilidade
de se comunicar usando o celular é sufocante e angustiante. O
transtorno é associado ao fato de falar a todo o momento com os outros
ou por considerar o celular imprescindível para sua segurança, desperta
também a necessidade de ficar conectado à internet. Isso não só é uma
realidade, que muitos buscam comprar aparelhos cada vez mais modernos
que facilitem o acesso à internet. Os mercados de telefonia móvel, por
sua vez, atentos a este movimento, lançam a cada ano modelos mais
potentes, com novos recursos e aplicativos.
A preocupação se
concentra nos jovens e nas crianças, sempre mais vulneráveis a este tipo
de dependência, principalmente pelo surgimento cada vez maior dos jogos
“online”. Este desprendimento ao mundo real é o perigo da dependência,
que pode fazer com que a pessoa viva baseada na irrealidade. A internet
proporciona um prazer imediato, uma satisfação rápida que leva a pessoa
desejar repetir a sensação. Esta busca pelo prazer imediato é o
propósito destes tempos contemporâneos, em que a sociedade é movida pelo
prazer próprio e a satisfação de seus desejos. O mal-estar imposto pela
realidade pode assim ser atenuada. Muitos não possuem a noção do preço
pago para concretizar este desejo desenfreado. Negligenciam suas vidas
em prol de uma sensação agradável, mas momentânea. O indivíduo vivencia
uma série de experiências agradáveis que incluem desde a possibilidade
de abstrair o tempo até um incrível sentimento de poder. Tudo isso a um
toque na tecla ou no mouse e que rompe a frágil película do limite e
acionando outras dimensões, a fantasia. A escravidão é o preço pago.
Outro
ponto que contribui para o vício é a falsa ideia de que você pertence a
um grupo. A possibilidade de interagir com todos ao mesmo tempo e até
com pessoas de outros países fomenta a fantasia do ciberviciado. O
anonimato é outro fator preponderante para que esta fantasia aumente. Se
apresentar como quiser, subtraindo em parte ou totalmente o que não
gosta em si mesmo, e assim, assumir a imagem que quiser, colocando as
máscaras que achar conveniente e sustentar a história que for agradável à
pessoa.
As consequências do Transtorno de Vício em Internet faz
com que a pessoa aos poucos vá perdendo o interesse na vida e tudo se
resuma ao uso da internet. O isolamento emocional e o contato
interpessoal ficam prejudicados. A alienação é gradativa e a pessoa
tende a ter dificuldades em interagir com o outro que não seja através
da internet. Quem precisa usar a internet no trabalho, como instrumento
para contatos e práticas profissionais não necessariamente possui a
doença. O conflito é quando o sujeito começa a ficar inquieto, agitado e
bastante incomodado em não ter condições de acessar a rede, o que causa
muito sofrimento. Deixar de lado a responsabilidade do dia a dia para
ficar conectado é um sintoma evidente da dependência. Carência,
insegurança, vida solitária, dificuldade em lidar com frustrações, fobia
social, baixa autoestima e depressão constituem o perfil de indivíduos
mais propensos a desencadear o transtorno, pois encontra no mundo
virtual amparo para o seus conflitos emocionais.
Existem alguns
tratamentos que envolvem remédios e psicoterapia para diminuir o uso de
internet. A proposta é fazer com que ela substitua a prática por coisas
mais importantes na vida, modificando assim os valores do sujeito e
aguçando o juízo crítico. Resgate o contato com o outro que não deve ser
substituído pela máquina. Restituir as identificações sociais e uma
maneira de reconstruir o afeto do sujeito, dando-lhe condições de se
libertar desta dependência.
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