Quem
fala palavrão no dia a dia de trabalho pode ser preterido na hora da
promoção. É o que mostra pesquisa feita pelo site americano
CareerBuilder. O estudo, que ouviu mais de dois mil gerentes de RH e
3.800 trabalhadores, indica que 64% dos gestores analisam negativamente
um empregado que use termos chulos com frequência, enquanto 57% disseram
ser menos propensos a promover essa pessoa.
Descontadas as diferenças
culturais entre Brasil e Estados Unidos, especialistas confirmam que,
aqui também, o palavrão, especialmente quando não é usado com moderação,
pode ser prejudicial à imagem profissional. Principalmente em empresas
grandes e com estruturas hierárquicas mais formais. — Nos Estados Unidos, é possível notar que esse tipo de linguajar é evitado por questão de respeito, o que está associado ainda à cultura jurídica do país, muito rígido quanto a temas como o assédio moral — afirma Jorge Martins, consultor de Recrutamento da Robert Half, ao fazera comparação. — Já no Brasil, o repúdio a esse tipo de comportamento tem mais a ver com o conservadorismo, que ainda predomina nas empresas grandes.
‘Latino mistura espaços de casa e trabalho’
Martins diz, ainda, que, por aqui, e nos países latinos de maneira geral, ainda existe uma grande confusão entre o ambiente corporativo e o caseiro, o que pode explicar uma maior incidência de palavrões no mercado de trabalho nacional. Mas, para o especialista, o que pesa mesmo são as diferenças entre os setores, seja lá ou cá.
— Em empresas como agências de publicidade ou da área de TI, as pessoas se soltam mais e o palavrão é mais comum e tolerado. Já em outras indústrias mais tradicionais, que têm uma cultura corporativa forte, a coisa funciona de forma diferente. De todo modo, é fundamental sempre saber se posicionar frente ao seu interlocutor.
Ou seja: saber com quem está falando. É a regra que segue Conceição dos Santos, gerente de Departamento Pessoal de uma empresa de bebidas. Na sala que compartilha com cinco colegas, com quem tem intimidade, às vezes fala um palavrão, sem temer represálias.
— Afinal, ninguém é de ferro. Mas, quando preciso atender ao público externo ou conversar com um coordenador de outra área, evito. Tem que falar com as pessoas certas — acredita Conceição, que também faz uma diferenciação entre diferentes tipos de palavrão. — Nunca xingo ninguém ou uso um palavrão para ofender. Eu falo em momentos de estresse ou de raiva, mas sempre em tom alto, e é comigo mesma.
A gerente de DP está na estatística americana dos 51% dos empregados que usam palavrão no trabalho e dos 95% que só falam na frente dos colegas, como ainda mostra a pesquisa do CareerBuilder. E, embora os números sejam altos, quando o uso é exagerado pode criar problemas. O coach e sócio da Alliance Coaching, Alexandre Rangel, relata duas situações em que o palavreado afetou a carreira de dois profissionais. A primeira foi a de um diretor de marketing, demitido por um novo vice-presidente da companhia, entre outros motivos, por causa de seu linguajar chulo e agressivo. Já em outro caso, quando fazia um coaching para um grupo de oito supervisores, uma das questões com que Rangel precisou lidar foi a falta de tolerância de um participante com a boca suja de um dos seus pares.
Palavrão usado como mecanismo de defesa
— Muitas vezes, as pessoas não percebem a necessidade de mudança na maneira de agir em função do ambiente em que está. Não dá para levar o comportamento de arquibancada para o trabalho — afirma Rangel.
E, embora a maioria dos funcionários admita falar palavrão no trabalho, eles próprios se incomodam quando os colegas exageram. É o que relata uma funcionária de uma empresa da área de TI, que prefere não se identificar. Recém-chegada ao escritório, já conseguiu se incomodar com o comportamento pouco amigável de um integrante da equipe.
— Mas não sou só eu. Houve uma rearrumação na sala, e ninguém quis sentar ao lado dessa pessoa.
Para a coach Waleska Farias, especializada em gestão de carreira e imagem, uma palavra chula, muitas vezes, é utilizada como mecanismo de defesa, por quem busca mascarar algum tipo de sentimento. E, como no trabalho, nem sempre dá para botar em prática a máxima “os incomodados que se mudem”, ela sugere que, quando esse tipo de comportamento atrapalha o bom humor alheio, o ideal é tentar conversar com quem provoca a discórdia.
— O primeiro passo é dizer diretamente para o “boca suja” que não gosta de palavrões. Se, ainda assim, ele não maneirar, pode ser o caso de ir falar com o chefe. A linguagem reflete o estado emocional das pessoas e a energia negativa pode acabar sendo reproduzida no entorno, o que nem sempre é bom — diz Waleska.
Da Agência O Globo
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