Por Alana Gandra Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - A gerente executiva de Projetos do Instituto Pró-Livro (IPL), Zoraia Failla, disse hoje (9), em entrevista à Agência Brasil,
que as histórias em quadrinhos (HQ) podem ser uma ferramenta para
formar leitores e auxiliar na educação de crianças e adolescentes. “Eu
penso que dentro de um espaço de mediação, todo tipo de leitura é
importante, especialmente para a gente tirar aquela imagem que se cria
em relação a um livro que é oferecido em uma sala de aula e que se
transforma em obrigação, em tarefa”.
Zoraia acredita que o trabalho com quadrinhos dentro da escola pode
quebrar um pouco a seriedade do livro, contribuindo para trazer a
criança e o jovem para a leitura de uma forma mais prazerosa e
interessante.
“Eu acho que pode ser um meio, nunca um fim. Porque o
quadrinho pode até trabalhar algum conteúdo, mas o faz de forma
superficial. Como incentivo à leitura, ele pode ser um mobilizador”,
disse.
Para a gerente do IPL, a HQ pode desenvolver habilidades na escola,
entre as quais a concentração e o interesse pela leitura em geral. “Sem
dúvida, deveria ser melhor trabalhada para conseguir que, a partir
dali, o aluno se interesse por uma leitura um pouco mais complexa, com
mais conteúdo”. Zoraia avaliou que é preciso se usar hoje todos os
meios para conseguir conquistar as crianças e jovens para a leitura.
Zoraia indicou que a HQ pode ser um instrumento eficiente para
passar conteúdos de disciplinas curriculares, como história, ciências e
geografia, para os estudantes. “É uma forma talvez mais agradável, mais
interessante, para a garotada de hoje, de levar o conhecimento”. Como
as crianças, em geral, sentem uma atração forte pelos quadrinhos, que
são considerados uma forma de entretenimento, ela avalia que “seria
inteligente usar essa ferramenta como uma forma de trazer a garotada
seja para a leitura, seja para conteúdos mais complexos”.
O
diretor comercial da Comix Book Shop, uma livraria especializada em
histórias em quadrinhos, Jorge Rodrigues, destacou a qualidade,
inclusive literária, das histórias em quadrinhos feitas no Brasil.
“Hoje, a gente tem crescido bastante na produção de quadrinhos
nacionais. O mercado independente, onde o autor mesmo produz o seu
livro, edita e lança, aumentou muito de uns anos para cá e há gráficas
que imprimem com demanda menor. Com isso, há muitos projetos e ideias
muito boas sendo lançadas que, de repente, não encontraram respaldo nas
editoras”, disse.
Rodrigues ressaltou que muitas editoras têm investido em adaptar
literatura clássica para quadrinhos. “É uma vertente que tem crescido
muito no mercado”. O objetivo, conforme enfatizou, é que o governo
compre e as escolas venham a consumir esse produto, visando que seja uma
ferramenta na parte da educação. O estande da Comix na 16ª Bienal
Internacional do Livro do Rio de Janeiro, encerrada ontem (8), foi um
dos mais frequentados durante os 11 dias do evento, com filas extensas
na porta que reuniam público de todas as faixas etárias.
O Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE) supre as escolas de
ensino público das redes federal, estadual, municipal e do Distrito
Federal de obras e materiais de apoio à prática da educação básica,
incluindo HQs. Em 2013, serão atendidas as escolas dos anos finais do
ensino fundamental e ensino médio, informou a assessoria de imprensa do
Ministério da Educação. O programa vai distribuir cerca de 6,7 milhões
de obras literárias a mais de 68,8 mil escolas de todo o país. Os
investimentos na compra dos livros alcançam em torno de R$ 66 milhões.
Em 2006, por exemplo, o Ministério da Educação incluiu livros de histórias em quadrinhos e de imagens na coleção do PNBE. Dom Quixote em Quadrinhos, de Caco Galhardo; Toda Mafalda , de Quiño; Na Prisão (mangá - quadrinho japonês), de Kazuichi Hanawa; Santô e os Pais da Aviação, de João Spacca de Oliveira; e Café Van Gogh, de Ana Maria Machado Mello & Mayer Design, foram alguns dos HQs incluídos na lista.
Com licenciatura em desenho pela Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ), Denis Mello tem experiência na aplicação de oficinas em
salas de aula da rede pública de ensino, inclusive em parceria com o
Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Sesc), utilizando a HQ e o
desenho como ferramenta principal. Falando à Agência Brasil,
ele disse que consegue ver como os quadrinhos despertam a curiosidade
dos alunos. “Eles tendem a colaborar mais, a se interessar mais pelo
assunto”
Mello salientou que a HQ é uma forma de arte. “Do mesmo jeito que as
outras formas de arte podem colaborar como ferramenta de educação, a HQ
também funciona. Da mesma forma que você pode usar música, literatura e
pintura, você pode usar história em quadrinhos”, manifestou.
Denis Mello está desenvolvendo agora, com um grupo de amigos, um
projeto voltado à produção de quadrinhos educativos, que será efetuado
em parceria com secretarias municipais de educação do estado do Rio de
Janeiro. O projeto deverá ser iniciado em Magé. “Foi a primeira
secretaria a se interessar pelo projeto”. Pretende-se suprir a carência
de material didático onde ela exista, nas escolas, por HQ. “Na educação
ambiental, por exemplo, a gente chegaria com a história em quadrinho
para suprir essa necessidade e com um material didático que vai
conversar mais com os jovens do que o material burocrático tradicional”.
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