« jorge boucinhas » médico e professor da UFRN - boucinhas_jc@hotmail.com
Tendo-se,
no Artigo passado, iniciado uma revisão sobre o Vegetarianismo, no
desta semana revêem-se os aspectos positivos da referida abordagem
alimentar.
Um fator relevante para a avaliação dos mesmos é a
idade quando da adesão ao regime alimentar. De acordo com Fonnebo
(1994), as pessoas que se tornaram Adventistas do Sétimo Dia durante a
adolescência apresentaram aproximadamente a metade do risco de
mortalidade geral do restante da população.
Já entre aquelas que
iniciaram as recomendações vegetarianas da religião a partir dos 35 anos
não se verificou associação positiva com o aumento da expectativa de
vida, quiçá porque as mudanças tardias não ofereceram tempo suficiente
para surgirem resultados benéficos.
Doenças que modernamente
afligem tanto países desenvolvidos quanto países em desenvolvimento,
quais a Obesidade e o Diabetes Mellitus, estão profundamente ligadas uma
à outra e à forma de alimentação, podendo-se até afirmar que a primeira
é o fator ambiental mais importante para o aparecimento da segunda.
Snowdon, em 1988, detectou e publicou que, entre vegetarianos, a
prevalência destas doenças é inferior à verificada na população em
geral. Logo antes da passagem do milênio o mesmo autor verificou que 10%
dos Adventistas do Sétimo-Dia e 25% dos não Adventistas consumiam
regularmente carnes e ovos, e constatou que a taxa de mortalidade por
doença coronariana e câncer de cólon esteve positivamente associada ao
consumo destes alimentos. Embora as recomendações para diminuir o
risco de doenças crônicas sugiram a moderação dos hábitos dietéticos e
não a eliminação total do consumo de carnes e outros alimentos de origem
animal, um outro estudo, este prospectivo e de 12 anos de duração,
incluindo 4.671 vegetarianos e 6.225 não vegetarianos ingleses de ambos
sexos, evidenciou que a mortalidade por doença coronariana isquêmica foi
estatisticamente menor entre vegetarianos, porém os autores não
chegaram a esclarecer se este fato foi devido exclusivamente à
abstinência de carne ou o foi ao alto consumo de vegetais ricos em
antioxidantes como vitaminas C e E, e bioflavonóides.
Com
relação à mortalidade devido a doenças do sistema circulatório e
respiratório, incluindo câncer de pulmão, Key e colaboradores, em 1996,
verificaram, em estudo de 17 anos de duração, que é menor entre os
vegetarianos. Os autores ressaltaram, no entanto, que também o estilo de
vida, incluindo hábito de fumar, afeta bastante o desenvolvimento
dessas condições.
Anderson e seus colaboradores, em1994,
atribuíram o menor risco de surgimento ou a melhora das enfermidades
crônicas entre vegetarianos às propriedades das fibras alimentares,
defendendo a idéia de que ao ingerirem mais deste componente que os
onívoros, ficam menos propensos à Hiperlipidemia e à Aterosclerose.
Obviamente não descartaram a contribuição de outros fatores dietéticos,
quais os níveis de consumo de gorduras saturadas e calorias totais na
definição do perfil de saúde.
No mesmo ano Vuoristo e Miettinen
relataram que a ingestão e a absorção do colesterol são
significativamente menores em indivíduos ovo-lacto-vegetarianos do que
em onívoros, o que baixa as concentrações séricas de colesterol total e
LDL, por si só já conferindo certa proteção contra as doenças
cardiovasculares. Associado à menor absorção, vegetarianos ingerem
dietas com menores quantidades de gordura saturada e colesterol, e maior
teor em fibras alimentares, do que os onívoros. Ling e Hanninen
acrescentaram que a adesão a dietas vegans, nas quais só se admite
alimentos vegetais (crus em sua maioria), causaria uma diminuição
intestinal de enzimas bacterianas e de produtos tóxicos relacionáveis ao
desenvolvimento do câncer de cólon.
Há poucos anos
Kris-Etherton e auxiliares salientaram que a ingestão de frutos
oleaginosos conferia efeito protetor adicional contra degeneração
arterial, de vez que o seu conteúdo em ácidos graxos monoinsaturados e
compostos bioativos diminui o colesterol plasmático. Fraser, no mesmo
período, relatou que, no referente ao infarto agudo do miocárdio,
indivíduos que consumiam frutos oleaginosos 1 a 4 a vezes por semana
reduziram em 22% seu risco de acometimento, e aqueles que as ingeriam 5
ou mais vezes reduziram-no em 51%.
Alguns estudos
epidemiológicos mais recentes, de há um lustro atrás, como o de Barr,
vêm sugerindo que o Ovo-lacto-vegetarianismo exerce um efeito positivo
contra a osteoporose em mulheres, e Hunt e Reed evidenciaram que, em
média, a densidade óssea média de vegetarianas pós-menopausadas nunca
caia abaixo da de onívoras.
Como nada é perfeito (à exceção de
Deus!), ficam para o próximo Artigo observações sobre os possíveis
efeitos nefastos do Vegetarianismo. Até lá!
Tribuna do Norte
Nenhum comentário:
Postar um comentário