Estudo poderá auxiliar no tratamento de pessoas com pesadelos.
Médico do Huol, Sérgio Arturo Rolim estuda o sono há cerca de 13 anos.
Estudo é desenvolvido na UFRN (Foto: Wallacy Medeiros)
O médico do Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(UFRN), Sérgio Arturo Rolim, estuda o sono há cerca de 13 anos e, desde
2007, pesquisa os sonhos lúcidos, também conhecidos no meio científico
pela sigla SL, quando a pessoa que dorme percebe que está acordada. Os primeiros resultados apontam para aplicações clínicas do trabalho,
que poderá auxiliar no tratamento de pessoas com pesadelos recorrentes.
O
problema é comum em pacientes com depressão grave, esquizofrenia,
surtos psicóticos ou que estejam sob grande estresse pós-traumático.
Isso porque “o sonho lúcido é o contrário da psicose: esta é patológica e
o sonho lúcido é fisiológico. É como um acordar no sonho, enquanto a
psicose é um sonho durante a vigília”, explica Rolim.
Sem sucesso na indução de SL em voluntários psicologicamente saudáveis,
que era seu primeiro objetivo de pesquisa, o médico passou a observar a
atividade cerebral de pessoas que os têm com maior frequência. Para
isso, foi utilizado o método de Laberge, no qual uma espécie de touca
com eletrodos superficiais é utilizada por voluntários, que sinalizam
com o movimento dos olhos quando entram em sonho lúcido e, assim, as
ondas cerebrais emitidas durante o SL são comparadas àquelas de antes e
depois do evento.
“O sonho acontece durante o sono REM (sigla inglesa para Movimento
Rápido dos Olhos), fase de relaxamento dos músculos”, explica o
neurocientista sobre o método. Se os músculos não perdessem o tônus, nos
mexeríamos conforme o que estivéssemos sonhando, já que estaríamos
mentalmente vivenciando os fatos. “Mas os músculos dos olhos não
relaxam”, continua o médico, o que permite que os voluntários possam
usá-los para sinalizar ao cientista que começaram a ter um sonho lúcido.
Além das observações feitas nos laboratórios do Instituto do Cérebro
(ICe) da UFRN, Rolim teve colaboração de pesquisadores alemães, que lhe enviaram resultados de exames para análises.
As observações realizadas levaram a encontrar características curiosas
que opõem a psicose e o sonho lúcido: no primeiro caso, ocorre uma
significante diminuição da atividade cerebral na parte frontal do
cérebro, aquela que se associa à tomada de decisão e à autoconsciência,
incluindo, por exemplo, movimentos voluntários e o reconhecimento do seu
nome quando o estão chamando. Quando alucinando, por sua vez, o cérebro
tem uma hiperfrontalização. “Os psicóticos de longa data têm pouca
atividade no lobo frontal, e as pessoas saudáveis também são assim
durante o REM, a não ser quando estão tendo um sonho lúcido”, conta o
médico.
Ainda durante a pesquisa, a equipe de neurocientistas composta por
Sérgio Rolim, Sidarta Ribeiro (orientador) e John Fontenele
(co-orientador), todos pesquisadores da UFRN, perceberam a carência de
trabalhos sobre os hábitos de sonho na América Latina, incluindo o
Brasil. Assim, mesmo utilizando resultados de exames de
eletroencefalograma para suas análises, com o intuito de ter um
resultado menos dependente de relatos, os pesquisadores criaram,
aplicaram e publicaram o primeiro estudo sobre sonhos na América Latina,
no ano de 2011.
O sonho do brasileiro
Investigações sobre sonhos lúcidos por muito tempo foram baseadas em
descrições feitas por voluntários, que respondiam a questionários sobre
seu sono. No entanto, os dados utilizados eram de populações dos Estados
Unidos e Europa: “não há estudos do tipo sobre sonhos na América
Latina”, aponta o pesquisador.
Interessado em saber mais sobre o assunto, Rolim elaborou o primeiro
questionário latino-americano sobre o sonho, que foi enviado a milhares
de pessoas pela internet: “simples, barato e sem necessidade de
equipamentos complexos”, diz. As 20 perguntas feitas abordavam, por
exemplo, a frequência com que ocorriam, lúcidos ou não, se eram
coloridos ou em preto e branco, quais os temas e o que aparece neles.
Mais de quatro mil respostas foram recebidas, o que ofereceu ao
estudioso a possibilidade de apurar, por exemplo, que o estímulo que
mais invade os sonhos é o auditivo – como quando o despertador toca e o
barulho passa a fazer parte da imaginação durante o sono – e que a
maioria das pessoas já teve entre um e dez SL, mas que, embora
frequentes, não tendem a ser recorrentes. Ainda assim, “algumas pessoas
até acham que os sonhos lúcidos são o normal”, comenta o médico sobre os
resultados.
Os respondentes que relataram mais frequência de SL dizem que adormecer
pensando em tê-los favorece o evento. O segundo maior motivo para
acontecerem é o estresse. Uma explicação, segundo o médico, é que,
embora tenhamos muitos sonhos durante a noite, só lembramos daqueles que
são interrompidos porque acordamos. Embora ainda seja um estudo em
andamento, “uma hipótese para o sonho lúcido é de que ele seja uma
transição entre o sono e a vigília”, diz Rolim, já que é possível sonhar
e, ainda assim, estar “acordado” ao longo do evento.
Saiba mais
Do G1 RN
Do G1 RN
Nenhum comentário:
Postar um comentário