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quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Médico da UFRN estuda tratamento para quem sonha acordado

Estudo poderá auxiliar no tratamento de pessoas com pesadelos. Médico do Huol, Sérgio Arturo Rolim estuda o sono há cerca de 13 anos.

Estudo é desenvolvido na UFRN (Foto: Wallacy Medeiros) 
Estudo é desenvolvido na UFRN (Foto: Wallacy Medeiros)
O médico do Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Sérgio Arturo Rolim, estuda o sono há cerca de 13 anos e, desde 2007, pesquisa os sonhos lúcidos, também conhecidos no meio científico pela sigla SL, quando a pessoa que dorme percebe que está acordada. Os primeiros resultados apontam para aplicações clínicas do trabalho, que poderá auxiliar no tratamento de pessoas com pesadelos recorrentes.
O problema é comum em pacientes com depressão grave, esquizofrenia, surtos psicóticos ou que estejam sob grande estresse pós-traumático. Isso porque “o sonho lúcido é o contrário da psicose: esta é patológica e o sonho lúcido é fisiológico. É como um acordar no sonho, enquanto a psicose é um sonho durante a vigília”, explica Rolim.
Sem sucesso na indução de SL em voluntários psicologicamente saudáveis, que era seu primeiro objetivo de pesquisa, o médico passou a observar a atividade cerebral de pessoas que os têm com maior frequência. Para isso, foi utilizado o método de Laberge, no qual uma espécie de touca com eletrodos superficiais é utilizada por voluntários, que sinalizam com o movimento dos olhos quando entram em sonho lúcido e, assim, as ondas cerebrais emitidas durante o SL são comparadas àquelas de antes e depois do evento.
“O sonho acontece durante o sono REM (sigla inglesa para Movimento Rápido dos Olhos), fase de relaxamento dos músculos”, explica o neurocientista sobre o método. Se os músculos não perdessem o tônus, nos mexeríamos conforme o que estivéssemos sonhando, já que estaríamos mentalmente vivenciando os fatos. “Mas os músculos dos olhos não relaxam”, continua o médico, o que permite que os voluntários possam usá-los para sinalizar ao cientista que começaram a ter um sonho lúcido. Além das observações feitas nos laboratórios do Instituto do Cérebro (ICe) da UFRN, Rolim teve colaboração de pesquisadores alemães, que lhe enviaram resultados de exames para análises.
As observações realizadas levaram a encontrar características curiosas que opõem a psicose e o sonho lúcido: no primeiro caso, ocorre uma significante diminuição da atividade cerebral na parte frontal do cérebro, aquela que se associa à tomada de decisão e à autoconsciência, incluindo, por exemplo, movimentos voluntários e o reconhecimento do seu nome quando o estão chamando. Quando alucinando, por sua vez, o cérebro tem uma hiperfrontalização. “Os psicóticos de longa data têm pouca atividade no lobo frontal, e as pessoas saudáveis também são assim durante o REM, a não ser quando estão tendo um sonho lúcido”, conta o médico.
Ainda durante a pesquisa, a equipe de neurocientistas composta por Sérgio Rolim, Sidarta Ribeiro (orientador) e John Fontenele (co-orientador), todos pesquisadores da UFRN, perceberam a carência de trabalhos sobre os hábitos de sonho na América Latina, incluindo o Brasil. Assim, mesmo utilizando resultados de exames de eletroencefalograma para suas análises, com o intuito de ter um resultado menos dependente de relatos, os pesquisadores criaram, aplicaram e publicaram o primeiro estudo sobre sonhos na América Latina, no ano de 2011.

O sonho do brasileiro
Investigações sobre sonhos lúcidos por muito tempo foram baseadas em descrições feitas por voluntários, que respondiam a questionários sobre seu sono. No entanto, os dados utilizados eram de populações dos Estados Unidos e Europa:  “não há estudos do tipo sobre sonhos na América Latina”, aponta o pesquisador.
Interessado em saber mais sobre o assunto, Rolim elaborou o primeiro questionário latino-americano sobre o sonho, que foi enviado a milhares de pessoas pela internet: “simples, barato e sem necessidade de equipamentos complexos”, diz. As 20 perguntas feitas abordavam, por exemplo, a frequência com que ocorriam, lúcidos ou não, se eram coloridos ou em preto e branco, quais os temas e o que aparece neles.
Mais de quatro mil respostas foram recebidas, o que ofereceu ao estudioso a possibilidade de apurar, por exemplo, que o estímulo que mais invade os sonhos é o auditivo – como quando o despertador toca e o barulho passa a fazer parte da imaginação durante o sono – e que a maioria das pessoas já teve entre um e dez SL, mas que, embora frequentes, não tendem a ser recorrentes. Ainda assim, “algumas pessoas até acham que os sonhos lúcidos são o normal”, comenta o médico sobre os resultados.
Os respondentes que relataram mais frequência de SL dizem que adormecer pensando em tê-los favorece o evento. O segundo maior motivo para acontecerem é o estresse. Uma explicação, segundo o médico, é que, embora tenhamos muitos sonhos durante a noite, só lembramos daqueles que são interrompidos porque acordamos. Embora ainda seja um estudo em andamento, “uma hipótese para o sonho lúcido é de que ele seja uma transição entre o sono e a vigília”, diz Rolim, já que é possível sonhar e, ainda assim, estar “acordado” ao longo do evento.


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