Em duas semanas, mais de 500 abalos foram registrados em Pedra Preta. 'Só vamos voltar a dormir em casa quando parar de tremer', diz agricultor.
Família do agricultor Cícero Avelino, de
60 anos, está dormindo em um caminhão
com medo dos tremores (Foto: Fernanda Zauli/G1)
Por Fernanda Zauli
Do G1 RN
Cícero Avelino, de 60 anos, a mulher, Maria Cavalcanti, de 56, um
filho, a nora e três netos dormem na carroceria de um caminhão há oito
dias. Moradores de Pedra Preta, município localizado a 149 km de Natal,
eles deixaram de passar a noite dentro de casa por medo dos sucessivos
tremores de terra que vêm ocorrendo na cidade. “A gente tem medo da casa
desabar e o telhado cair em cima da gente. É uma sensação muito ruim,
um medo muito grande. Só sabe quem já sentiu”, conta o agricultor.
A casa da família fica no sítio Toco Preto, na zona rural do município.
Para abrigar a família durante a noite, o agricultor improvisou uma
cobertura para a carroceria com uma lona. Os sete integrantes da família
se dividem em quatro colchões que permanecem no caminhão.
“Toda noite é a mesma coisa: a gente fica dentro de casa até o fim da
novela e depois vamos para o caminhão dormir”, diz Maria Cavalcanti, a
matriarca da família. “É melhor dormir aqui do que correr o risco da
casa desabar na nossa cabeça”, relata o neto de Seu Cícero, Siderlei
Bandeira Bezerra, de 12 anos.
Durante o dia a família tenta levar a vida normalmente. As crianças vão
para a escola, Cícero segue para a cidade onde presta serviço de frete
para a prefeitura e dona Maria cuida da casa. Ela é quem tem mais medo
dos tremores. “Eu passo o dia inteiro com a porta aberta porque se
precisar correr fica mais fácil. Por mim eu já tinha ido embora daqui. A
gente não sabe que horas pode ter um tremor mais forte e Deus nos livre
acontecer uma desgraça”, diz.
O quarto do casal, confortável e espaçoso, deve ficar vazio por um bom
tempo. “A gente só vai voltar a dormir lá quando alguém disser que não
vai ter mais tremor”, diz Cícero.
tremores em série
O pesquisador Joaquim Ferreira, que integra o Laboratório Sismológico
da UFRN, explica que a causa dos abalos em Pedra Preta é a formação
geológica do estado. "Todo o Rio Grande do Norte está na borda da bacia
potiguar que é uma região que é a mais ativa do Brasil. Por isso,
acontecem esses tremores", diz.
Ajuda psicológica
A Secretaria Estadual de Saúde Pública (Sesap) diz que na segunda-feira (11) haverá o envio de psicólogos ao município
de Pedra Preta. Também prestarão apoio, como forma de tranquilizar a
população, enfermeiros, acupunturistas e educadores físicos. As equipes,
segundo a secretaria, realizarão trabalhos de relaxamento, acupuntura,
rodas de conversa, exames físicos e aferição da pressão arterial, além
de palestra sobre medidas a serem tomadas para se tentar lidar com as
dificuldades.
O chefe de gabinete da Prefeitura de Pedra Preta, Jorge Alessandro
Ferreira, informa que o pedido foi motivado pela tensão que os abalos
sísmicos têm causado nos moradores da cidade. "O tremor do dia 25 de
outubro, de magnitude 3,7, mexeu muito com os moradores. Só se fala
nisso desde então. Queremos acalmar e orientar as pessoas", explica.
Tremores consecutivos
O Laboratório Sismológico da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)
continua acompanhando a atividade sísmica que vem ocorrendo na
localidade de Cabeço Preto, em Pedra Preta, desde o dia 24 do mês
passado. Desde então, já foram registrados mais de 500 eventos, em sua
maioria microtremores, que não são percebidos pela população, sendo
apenas registrados pelas estações sismográficas mais próximas do
epicentro.
Não há motivo para abandono"
Coronel Josenildo Acioli,
coordenador estadual da Defesa Civil
coordenador estadual da Defesa Civil
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A governadora Rosalba Ciarlini enviou uma equipe da Defesa Civil e do
Corpo de Bombeiros para Pedra Preta com o objetivo de avaliar os riscos
de desabamento de residências que foram afetadas com os últimos tremores
de terra que ocorreram na cidade. Uma equipe do Exército também se
deslocou para a cidade.
Na ocasião, o coordenador estadual da Defesa Civil, coronel Josenildo Acioli, aconselhou os moradores a permanecerem em suas casas
e tratou de tentar tranquilizar a população. "Não há motivo para
abandono. Tomamos as precauções para ter uma resposta rápida e eficaz se
necessário", afirmou.
Várias casas estão com rachaduras. Além disso, uma quadra de esportes da cidade foi interditada por risco de desabamento.
Morando em casas antigas, habitantes de Pedra Preta
temem abalos sísmicos (Foto: Jorge Talmon/G1)
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