Médicos precisam falar de rotina sexual com o pós-enfartado |
Ao contrário do que pensam muitos pacientes cardíacos, manter uma
vida sexual ativa e satisfatória mesmo depois de um infarto é possível –
e recomendável! A American Heart Association (Associação Americana do
Coração) lançou recentemente um manual de recomendações sobre o retorno à
vida sexual após um episódio cardiovascular. A publicação pretende
tirar o assunto da penumbra. O objetivo é incentivar os profissionais de
medicina a tomar a iniciativa e falar abertamente com os seus pacientes
sobre o tema, uma vez que muitos médicos não abordam a questão por
receio de deixar os pacientes constrangidos ou por não se sentirem
confortáveis diante da matéria.
A equipe da TRIBUNA DO NORTE
falou por telefone com a Ph.D. Elaine Steinke, autora do estudo que
originou o manual e professora da Wichita State University, no estado
americano de Kansas. Segundo a pesquisadora, as recomendações pretendem
quebrar definitivamente o tabu sobre a vida sexual pós infarto: “Muitos
profissionais simplesmente ignoram o assunto, e a questão se torna uma
preocupação na vida dos doentes cardíacos. Em alguns casos, a falta de
diálogo com o médico pode comprometer seriamente a qualidade de vida do
paciente, que, por falta de informação, deixa de ter uma vida sexual
ativa após o acidente cardíaco, com receio de ter alguma complicação”,
diz.
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Segundo
Isabela Villar, cardiologista e professora da UFRN, o tema é de difícil
abordagem, porém não pode ser esquecido pelos médicos. “A relação
médico-paciente precisa ser uma relação de confiança, sem restrições. A
ausência de atividade sexual pode afetar seriamente a auto-estima do
paciente, comprometendo também o seu bem estar e prejudicando o próprio
relacionamento. Eu falo claramente com todos os meus pacientes sobre a
questão, inclusive com os idosos. O tabu ainda existe, principalmente
quando se trata de uma médica, pois ainda há muitas barreiras e um certo
desconforto quando se fala de sexo. Mas o importante é estabelecer
essa ponte com o paciente e transpor os preconceitos”, diz.
Segundo
o manual da Associação Americana do Coração, cada caso de paciente com
histórico de doenças cardíacas precisa ser tratado individualmente, já
que as recomendações variam. Para Dr. Itamar Oliveira, ex-presidente da
Sociedade Brasileira de Cardiologia do Rio Grande do Norte, tudo depende
da existência ou não de sequelas pós-infarto: “Cada caso é um caso, e
os riscos vão de acordo com a repercussão do acidente cardiovascular. Se
o paciente apresenta angina (dor no peito devido ao baixo abastecimento
de oxigênio ao músculo cardíaco), sintomas de cansaço, falta de ar e
inchaço nas pernas, a atividade sexual e até mesmo física não é
recomendada”, diz.
De acordo com a professora Steinke, o
principal perigo da atividade sexual pós-infarto é a associação de
medicamentos vasodilatadores à base de nitrato (como o Sustrate, Isordil
e Monocordil) com remédios para disfunção erétil (como o Viagra). “A
combinação dessas drogas pode ser fatal para o paciente, por isso a
importância do diálogo com o médico. O manual vem justamente estimular a
abordagem do tema pelos cardiologistas, que devem superar a vergonha e
o medo, que ainda inibem o paciente de fazer qualquer pergunta sobre o
tema”.
Tribuna do Norte
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